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Cumaru e Serra Pelada, no Pará; e Alta Floresta, Peixoto<br />

de Azevedo e Juína, em Mato Grosso.<br />

Na década de 1980, essas regiões foram responsáveis<br />

por 25% da produção, mas, em função do<br />

ouro desviado do controle oficial, acredita-se que<br />

essa participação chegava a 85% do total nacional. O<br />

maior problema enfrentado pelos garimpeiros sempre<br />

foi a pressão exercida pelas empresas de mineração,<br />

que buscavam assumir a exclusividade da exploração<br />

mecanizada do ouro e do diamante. Essa pressão<br />

sempre gerou conflitos. O maior exemplo é o de<br />

Serra Pelada, onde os garimpeiros chegaram a se organizar<br />

em uma cooperativa. Mas a regra sempre foi<br />

a da violência física empregada pelos seguranças das<br />

mineradoras, ajudados pela Polícia Militar na expulsão<br />

dos garimpeiros.<br />

Na década de 1980, empresas como Mineração<br />

Gradaús e Mineração Ouro Norte disputaram com os<br />

garimpeiros a extração do ouro na região do Tapajós,<br />

no Pará. Em Peixoto de Azevedo, Mato Grosso, as<br />

empresas Thomin e Engemil fizeram o mesmo (CO-<br />

NAGE, 1984, p. 21).<br />

O norte de Mato Grosso, por exemplo, foi uma<br />

das regiões garimpeiras que tentaram “esconder” os<br />

massacres. José Renato Schaefer registrou em livro<br />

passagens dessa violência:<br />

A CPT, ouvindo demoradamente colonos e garimpeiros<br />

da área e também garimpeiros expulsos pela polícia<br />

e jagunços de Ariosto da Riva, presidente da Indeco,<br />

colheu os seguintes dados: os colonos nada têm<br />

contra os garimpeiros, pois na área onde moram não<br />

existe garimpo. A garimpagem estava sendo feita em<br />

área não-colonizada. Inclusive, alguns colonos sofre-<br />

ARIOVALDO U. DE OLIVEIRA 141<br />

ram ameaças e repressões por terem acolhido garimpeiros<br />

corridos e espancados pela polícia e jagunços.<br />

Desmentem também que garimpeiros tenham faltado<br />

com o respeito às famílias dos colonos.<br />

Grande parte dos garimpeiros expulsos de Paranaíta<br />

está no garimpo do Peixoto, situado na rodovia Cuiabá-Santarém,<br />

BR-163. Inúmeros deles foram ouvidos.<br />

Eis aqui, em resumo, o que passou: receberam um<br />

aviso para desocuparem a área por etapas. Isto é,<br />

aproximadamente trinta pessoas por vez. Na medida<br />

em que saíam da mata, eram apanhados por um grande<br />

número de jagunços e alguns policiais fardados.<br />

Eram obrigados a entregar todo o ouro que possuíam<br />

ao delegado de polícia de Sinop, José César Conte, e<br />

entrar na fila; os documentos pessoais eram queimados<br />

sob o pretexto de que documentos do Maranhão<br />

e outros Estados não valem em Mato Grosso; em seguida,<br />

eram obrigados a se despir e deitar de bruços.<br />

Os que não obedeciam apanhavam ou morriam ali<br />

mesmo. Qualquer movimento bastava para levar uma<br />

rajada. Quase todos os garimpeiros (cerca de 3.500)<br />

foram torturados pelos bandidos. Em alguns, introduziam<br />

o cano do mosquetão ou outros objetos no<br />

ânus, outros eram pendurados pelos pés (muitos até<br />

morreram), outros eram obrigados a manter relações<br />

sexuais com os próprios companheiros. As mulheres<br />

eram violentadas na presença dos maridos pelos policiais<br />

e jagunços. Chegou-se ao ponto de colocar gasolina<br />

na vagina e em seguida atear fogo. Davam coices<br />

de mosquetão nas mulheres grávidas. Dificilmente alguém<br />

escapou sem ser espancado. Depois da carnificina<br />

eram carregados numa tombeira. O embarque<br />

procedia da seguinte maneira: um dos companheiros,<br />

que havia sido surrado até sair sangue e cujas costas

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