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28 AMAZÔNIA REVELADA<br />

nhentos anos de Brasil: a cidade de Porto Seguro, na<br />

Bahia, transformou-se em praça de guerra, quando<br />

forças policiais foram mobilizadas para reprimir manifestantes<br />

indígenas, negros e sem-terra que apresentavam<br />

suas reivindicações. Como diz Marcos Terena,<br />

uma liderança que se destacou nos debates políticos<br />

nacionais sobre essa questão:<br />

Essa política indigenista criou sistemas de coerção à<br />

liberdade indígena quando diz assim: o índio tem de<br />

ser protegido. O índio realmente precisava de proteção<br />

nessa relação com o branco, mas transformaram<br />

os índios em incapazes e surgiu a figura do tutor do<br />

índio, o governo federal, que anulou todo o potencial<br />

indígena. Em nome dessa proteção, o índio não podia<br />

ir pra escola e foi criado um muro, e todo índio<br />

que se rebelava era castigado. 4<br />

Os debates sobre o destino da Amazônia, que<br />

ganharam impulso nos anos 90, especialmente após a<br />

realização, no Rio de Janeiro, da Conferência Mundial<br />

sobre Meio Ambiente, em 1992 (Eco-92), deram<br />

nova visibilidade à “questão indígena”. Isso se combinou<br />

com o processo complicado e trabalhoso de retomada<br />

das tradições e mobilizações dos povos originários,<br />

que hoje lutam por direitos assegurados pela<br />

Constituição de 1988. Mas isso tudo não quer dizer,<br />

necessariamente, que sua situação tenha melhorado<br />

de forma significativa. Ao contrário, há sinais claros<br />

de que a sociedade brasileira ainda cultiva uma mentalidade<br />

discriminatória.<br />

Talvez isso seja interessante do ponto de vista daqueles<br />

que vêem na Amazônia apenas uma grande<br />

oportunidade de ganhar bilhões de dólares.<br />

A CONSTRUÇÃO DA AMAZÔNIA<br />

NO REGISTRO ERUDITO<br />

A percepção da América como uma dádiva da natureza<br />

moldou a atitude do europeu em relação ao hemisfério<br />

americano, e a do próprio brasileiro em relação à<br />

Amazônia. Essa percepção é marcada por dois modos<br />

distintos e complementares de agir: de um lado, o maravilhamento,<br />

o desejo, a busca do desconhecido; de<br />

outro, a ação colonizadora, nota o historiador Nicolau<br />

Sevcenko:<br />

[...] a prática propriamente agressiva do ato ou da intervenção<br />

colonizadora, e que implica o contato direto,<br />

físico, com esse meio – em função da extração<br />

daquilo que se veio buscar pelo ato da colonização: o<br />

vegetal tropical ou o minério. E, nesse sentido, o que<br />

o colonizador tem diante de si não é mais paisagem,<br />

o que ele tem diante de si é a mata ou o sertão bravio<br />

– e a ênfase aí vai na expressão bravio, porque o<br />

ato realmente dignificante desse indivíduo é o do<br />

desbravamento. 5<br />

[...] O fato é que essas duas atitudes, a da percepção<br />

sensual da paisagem com projeção desejante e essa<br />

prática agressiva, essa ação interveniente predatória<br />

do desbravador – juntamente com os contatos e as<br />

relações que se estabelecem entre si –, são muito interessantes.<br />

Em grande parte nós somos os caudatários,<br />

os herdeiros desse impasse e dessa hesitação entre<br />

dois modos europeus diferentes de perceber uma<br />

mesma situação. 6<br />

No mundo contemporâneo, essa dupla atitude<br />

está na base de grande parte dos comportamentos ex-

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