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dessas populações, como crítica opositora ao modo de<br />

produção capitalista, que, sabidamente, é a grande<br />

força motriz da degradação ambiental (PORTO-<br />

GONÇALVES, 2004). A comunhão com as idéias de van<br />

Schaik e Kramer, no Brasil, ainda tem um adicional<br />

de absurdo que, infelizmente, é muito repetido por<br />

certas linhas de ecólogos: teme-se o pequeno camponês<br />

e conta-se, para detê-lo, com o Estado, que, ironicamente,<br />

sempre se aliou ao grande capital e promoveu<br />

os verdadeiros danos ambientais. Nada se comenta<br />

(como se não fosse da esfera desses cientistas, como<br />

se não fossem grandes devastadores do meio) sobre a<br />

miséria, a má distribuição de renda, o latifúndio e a<br />

estrutura concentradora de terras, que, quando não<br />

respondem diretamente pela agressão ao interior e entorno<br />

das unidades de conservação, respondem por<br />

dinâmicas que pressionam camponeses sobre os limites<br />

e recursos das reservas.<br />

A posição desses cientistas da conservação vai ao<br />

encontro do autoritarismo elitista de pensadores brasileiros<br />

como Farias Brito, Gilberto Freyre, Oliveira<br />

Vianna, Miguel Reale, Francisco Campos e outros.<br />

Leandro KONDER, referindo-se a falas desses e de outros,<br />

comenta:<br />

O pluralismo da ideologia da direita pressupõe uma<br />

unidade substancial profunda, inabalável: todas as<br />

correntes conservadoras, religiosas ou leigas, otimistas<br />

ou pessimistas, metafísicas ou sociológicas, moralistas<br />

ou cínicas, cientificistas ou místicas, concordam em<br />

um determinado ponto essencial. Isto é: em impedir<br />

que as massas populares se organizem, reivindiquem,<br />

façam política e criem uma verdadeira democracia.<br />

(1979, p. 4)<br />

MAURÍCIO TORRES E WILSEA FIGUEIREDO 387<br />

IORIS mostra, na Floresta Nacional do Tapajós,<br />

um exemplo dessa organização e reivindicação popular<br />

que sempre desperta tanta paúra:<br />

As primeiras informações sobre as comunidades que lá<br />

[Flona Tapajós] se encontravam foram produzidas somente<br />

em 1978, quando o IBDF começou um levantamento<br />

para desapropriá-las de suas respectivas áreas.<br />

O relatório contendo os resultados deste levantamento<br />

é o único documento que eu encontrei nos arquivos<br />

do Ibama que apresenta procedimentos adotados<br />

pelo órgão entre 1978 e 1983. Segundo as comunidades,<br />

foi através deste levantamento que elas ficaram sabendo<br />

da criação da Flona e, que elas seriam desapropriadas<br />

de suas terras […]. As comunidades, por seu<br />

lado, não aceitaram as propostas de desapropriação e<br />

empreenderam um forte movimento de resistência.<br />

Em resposta a esta resistência, o IBDF, então, decidiu<br />

excluir uma área da Flona para as comunidades. A decisão<br />

de excluir uma área para elas foi apresentada<br />

para alguns de seus membros em uma reunião no dia<br />

9 de maio de 1983, na sede do IBDF em Santarém. O<br />

relatório da reunião não informa o tamanho da área<br />

que seria destinada, apenas afirma que todas as pessoas<br />

presentes à reunião “foram unânimes em aceitar<br />

a proposta do IBDF” (IBDF/Flona Tapajós 1983). Segundo<br />

as pessoas das comunidades com quem conversei<br />

durante o levantamento em 1996, o IBDF havia<br />

promovido esta reunião com pessoas das comunidades<br />

convidadas aleatoriamente, que não eram reconhecidas<br />

como seus representantes e, portanto, não<br />

tinham legitimidade para negociar.<br />

Embora este encontro tenha ocorrido em maio, no<br />

mês anterior, em abril, o IBDF já tinha contratado os

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