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92 AMAZÔNIA REVELADA<br />

A questão dos incentivos, que provocou grande<br />

escândalo, tem origem na legislação, que até 1984 di-<br />

zia que todos os projetos que não cumprissem as normas<br />

poderiam ser cancelados. Se isso ocorresse, os responsáveis<br />

deveriam devolver o dinheiro ao Tesouro<br />

Nacional pelos valores históricos, ou seja, a mesma<br />

quantia recebida.<br />

Foi por essa razão que a maioria dos grandes grupos<br />

econômicos, nacionais ou estrangeiros, criou suas<br />

agropecuárias, pois assim podiam descarregar/desviar<br />

dinheiro do imposto de renda.<br />

Entre os projetos que nunca foram implantados<br />

está o da Agropecuária Suiá-Missu, em São Félix do<br />

Araguaia, MT. Aprovado pela Sudam em 1966, foi vendido<br />

a um grupo multinacional italiano em 1972. Ele<br />

previa a construção de duas cidades: Liqüilândia e<br />

Suiá. Em Suiá seriam construídos um grande frigorífico<br />

e um aeroporto internacional, por onde escoaria a<br />

produção de carne para a Itália. Nada foi feito. No lugar<br />

de Liqüilândia havia apenas um curral e no lugar<br />

de Suiá só a sede da fazenda (AMAZÔNIA, 1975, p. 8).<br />

A área ocupada pelos projetos agropecuários e<br />

agroindustriais na Amazônia Legal abrangeu mais de<br />

9 milhões de ha, sendo que a média da área deles era<br />

de 7.000 ha no Amazonas, 14.100 ha em Tocantins,<br />

16.300 ha no Pará e 31.400 ha em Mato Grosso.<br />

O objetivo principal era aumentar o rebanho<br />

bovino em 6,2 milhões de cabeças, criando para isso<br />

36.600 empregos. A relação de bovino por área ocupada<br />

é em média de 1,5 por ha, enquanto a média de<br />

trabalhador por área ocupada é de uma pessoa para<br />

cada 250 ha.<br />

A implantação dos projetos agropecuários obedeceu<br />

a uma lógica ditada pelos mecanismos de aces-<br />

so à terra. Em primeiro lugar, ela estava ocupada pelos<br />

índios ou pelos posseiros e, quando os latifundiários<br />

chegavam para formar as fazendas, encontravam<br />

essa realidade. Isso ocorria porque o processo de<br />

obtenção da terra se estribava na grilagem “legalizada”.<br />

Aquele que se dizia proprietário recebia o título<br />

sem nunca ter pisado nas terras. O encontro de posseiros<br />

ou índios nessas terras comprovava a burla<br />

contínua da lei, e então se usava a violência. Inicialmente<br />

com o intuito de assustar, depois como necessidade<br />

“imperiosa” da sobredeterminação da propriedade<br />

privada da terra.<br />

A partir da década de 1960, a Amazônia Legal<br />

conheceu a expansão da pecuária. A frente de expansão<br />

que caracterizava a maior parte de seu território,<br />

composta basicamente de posseiros vindos de Goiás<br />

e do Nordeste, passou a compartilhar o espaço com<br />

novos personagens sociais. Não se tratava de latifundiários<br />

tradicionais, a nova frente era formada por<br />

empresários do Centro-Sul, fortes grupos econômicos<br />

nacionais ou multinacionais. Essa ocupação representou<br />

uma expansão acelerada do capitalismo na<br />

região, por meio de vultosos projetos agropecuários.<br />

Linhas de crédito foram fornecidas pelo governo e<br />

chegavam a cobrir até 70% do capital das empresas,<br />

pela política de incentivos fiscais da Sudam, além da<br />

isenção de impostos e outras vantagens. Como contrapartida,<br />

as empresas teriam deveres e obrigações,<br />

como: ampliação e criação de novos empregos na região;<br />

formação de pastagens e criação de determinado<br />

número de cabeças de gado, em prazo preestabelecido,<br />

no geral dez anos; e a construção de obras de<br />

infra-estrutura para possibilitar o desenvolvimento<br />

regional.

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