26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

voláteis, explosivas, em fontes de beleza e alegria p<strong>ar</strong>a todos e conduzirão a história<br />

trágica da modernidade a um final feliz. Quer esse final chegue realmente a acontecer,<br />

<strong>que</strong>r não, o Manifesto <strong>é</strong> <strong>no</strong>tável por seu poder imaginativo, sua captação e expressão<br />

das possibilidades lumi<strong>no</strong>sas e ameaçadoras<br />

100<br />

<strong>que</strong> impregnam a vida moderna. Ao lado de <strong>tudo</strong> o mais <strong>que</strong> <strong>é</strong>, o Manifesto <strong>é</strong> a primeira<br />

grande obra de <strong>ar</strong>te modernista.<br />

Por<strong>é</strong>m, mesmo ao celebr<strong>ar</strong> o Manifesto como um <strong>ar</strong>qu<strong>é</strong>tipo do modernismo, <strong>é</strong> preciso<br />

lembr<strong>ar</strong> <strong>que</strong> modelos <strong>ar</strong><strong>que</strong>típicos servem p<strong>ar</strong>a tipific<strong>ar</strong> não apenas verdades e forças,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m lutas e tensões interiores. Assim, tanto <strong>no</strong> Manifesto como em seus ilustres<br />

sucessores, veremos <strong>que</strong>, contra as intenções do seu criador e provavelmente sem <strong>que</strong><br />

ele se desse conta disso, a visão da revolução e da resolução gera sua própria crítica<br />

imanente, e <strong>no</strong>vas contradições se insinuam <strong>no</strong> v<strong>é</strong>u tecido por essa mesma visão.<br />

Mesmo quando <strong>no</strong>s deixamos embal<strong>ar</strong> pelo fluxo dial<strong>é</strong>tico de M<strong>ar</strong>x, sentimo-<strong>no</strong>s sendo<br />

c<strong>ar</strong>regados por inexploradas correntes de incerteza e desconforto. Somos capturados<br />

numa s<strong>é</strong>rie de tensões radicais entre as intenções e as intuições de M<strong>ar</strong>x, entre o <strong>que</strong><br />

ele diz e o <strong>que</strong> ele vê.<br />

Tomemos, por exemplo, a teoria das crises, segundo M<strong>ar</strong>x: “crises <strong>que</strong>, por seu<br />

periódico retor<strong>no</strong>, põem em <strong>que</strong>stão a existência de toda a sociedade burguesa, cada<br />

vez mais radicalmente” (p. 478). Nessas crises recorrentes, “grande p<strong>ar</strong>te não só dos<br />

produtos existentes, mas das forças produtivas anteriormente criadas, <strong>é</strong><br />

sistematicamente destruída”. M<strong>ar</strong>x p<strong>ar</strong>ece acredit<strong>ar</strong> <strong>que</strong> essas crises irão min<strong>ar</strong> aos<br />

poucos o capitalismo e talvez destruí-lo. Con<strong>tudo</strong>, sua própria visão e análise da<br />

sociedade burguesa mostram com <strong>que</strong> perícia essa sociedade enfrenta crises e<br />

catástrofes: “de um lado, pela destruição premeditada de grande quantidade de<br />

forças produtivas; de outro, pela conquista de <strong>no</strong>vos mercados e a exploração mais<br />

aperfeiçoada dos antigos”. Crises podem aniquil<strong>ar</strong> pessoas e companhias <strong>que</strong> são, por<br />

definição do mercado, relativamente fracas e ineficientes; podem abrir espaço p<strong>ar</strong>a<br />

<strong>no</strong>vos investimentos e redesenvolvimentos; podem forç<strong>ar</strong> a burguesia a i<strong>no</strong>v<strong>ar</strong>, expandir<br />

e combin<strong>ar</strong> seus instrumentos de maneira mais engenhosa <strong>que</strong> antes: crises podem,<br />

portanto, atu<strong>ar</strong> como inesperadas fontes de força e resistência do capitalismo. Talvez<br />

seja verdade, como diz M<strong>ar</strong>x, <strong>que</strong> essas formas de adaptação apenas “pavimentam o<br />

caminho p<strong>ar</strong>a crises ainda maiores e mais destrutivas”. Mas, dada a capacidade<br />

101

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!