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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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seriedade e maturidade coletivas. A ação e sofrimento na praça Kazan efetuou, pela<br />

primeira vez na história da Rússia, “uma união entre a intelligentsia e o povo”. 37 Tenho<br />

mostrado como, desde “O Cavaleiro de Bronze”, os heróis solitários da literatura de<br />

Petersburgo tom<strong>ar</strong>am a<br />

222<br />

seu c<strong>ar</strong>go tais gestos e ações desesperadas. Agora, finalmente, os sonhos da <strong>ar</strong>te da<br />

cidade estavam tomando conta de sua vida desperta. Uma perspectiva <strong>no</strong>va, política,<br />

está se fazendo acessível em Petersburgo.<br />

Demonstrações como a<strong>que</strong>la na praça Kazan são difíceis de encontr<strong>ar</strong> na história do<br />

desenvolvimento revolucionário da Rússia. Isso por<strong>que</strong>, com r<strong>ar</strong>as exceções, essa<br />

história foi escrita de cima, segundo a perspectiva das elites. Assim, temos, de um lado,<br />

a história das tendências intelectuais — “eslavófilas”, “ocidentatizantes”, “os 40”, “os<br />

60”, “o populismo”, “m<strong>ar</strong>xismo” — e, de outro, a história das conspirações. Na<br />

perspectiva elitista, Chernyshevski ocupa o centro do palco, como o criador daquilo <strong>que</strong><br />

se tor<strong>no</strong>u o modelo revolucionário padrão russo: homens e mulheres de disciplina de<br />

ferro, mentes mecanicamente programadas e absolutamente nenhuma sensibilidade<br />

ou vida interior — a inspiração de Lenin e, posteriormente, de Stalin. Dos-toievski entra<br />

nesse quadro apenas como um crítico severo das tendências radicais, em Notas do<br />

Subterrâneo, e das conspirações radicais, em Os Possessos. Na última geração,<br />

entretanto, historiadores vieram a entender a história das revoluções, começando com a<br />

Revolução Francesa de 1789, de baixo, como uma história das multidões<br />

revolucionárias: grupos de pessoas anônimas e comuns, pessoas cheias de fra<strong>que</strong>zas<br />

e vulnerabilidades, dilaceradas pelo medo, dúvida e ambivalência, mas prontas a sair às<br />

ruas <strong>no</strong>s momentos culminantes e a <strong>ar</strong>risc<strong>ar</strong> o pescoço p<strong>ar</strong>a lut<strong>ar</strong> por seus direitos. 38<br />

Quanto mais acostum<strong>ar</strong>mos a ver os movimentos revolucionários de baixo, mais<br />

cl<strong>ar</strong>amente veremos Chernyshevski e Dostoïevski como p<strong>ar</strong>tes de um mesmo movimento<br />

político e cultural: um movimento de plebeus de Petersburgo se esforçando, de forma<br />

cada vez mais ativa e radicai, p<strong>ar</strong>a torn<strong>ar</strong> sua a cidade de Pedro. Nietzsche deveria<br />

est<strong>ar</strong> pensando em Petersburgo quando imagi<strong>no</strong>u “a história do eclipse moder<strong>no</strong>: os<br />

nômades do Estado (funcionários civis etc.) sem l<strong>ar</strong>”. O movimento <strong>que</strong> tracei se orienta<br />

p<strong>ar</strong>a um nascer do sol mais radicalmente moder<strong>no</strong> depois desse eclipse: uma grande<br />

aurora na qual esses nômades moder<strong>no</strong>s transform<strong>ar</strong>ão em l<strong>ar</strong> a cidade <strong>que</strong> fez deles o<br />

<strong>que</strong> são.<br />

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