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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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urguesa de tir<strong>ar</strong> proveito da destruição e do caos, não há qual<strong>que</strong>r razão ap<strong>ar</strong>ente<br />

p<strong>ar</strong>a <strong>que</strong> essas crises não possam prosseguir numa espiral interminável, destruindo<br />

pessoas, famílias, corporações, cidades, por<strong>é</strong>m deixando intactas as estruturas e o<br />

poder da vida social burguesa.<br />

Em seguida, temos de consider<strong>ar</strong> a visão da comunidade revolucionária em M<strong>ar</strong>x. Seus<br />

fundamentos serão fornecidos, ironicamente, pela própria burguesia. “O progresso da<br />

indústria, cujo involuntário promotor <strong>é</strong> a burguesia, substitui o isolamento do trabalhador<br />

pela sua união em entidades associativas.” (p. 483) As imensas unidades de produção,<br />

inerentes à indústria moderna, acabam por reunir grande<br />

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número de trabalhadores, forçando-os a depender uns dos outros e a cooper<strong>ar</strong> em suas<br />

t<strong>ar</strong>efas — a moderna divisão de trabalho exige uma intrincada cooperação, a cada<br />

momento da vasta escala —, e isso os ensin<strong>ar</strong>á a pens<strong>ar</strong> e a agir coletivamente. Os<br />

vínculos comunitários dos trabalhadores, gerados de forma inadvertida pela produção<br />

capitalista, se desenvolverão em instituições políticas militantes, sindicatos <strong>que</strong> f<strong>ar</strong>ão<br />

oposição e por fim porão abaixo a moldura privada, atomística das relações sociais do<br />

capitalismo. Assim acredita M<strong>ar</strong>x.<br />

Mas, caso seja verdadeira essa visão abrangente da modernidade, por <strong>que</strong> razão as<br />

formas comunitárias produzidas pela indústria capitalista seriam mais sólidas <strong>que</strong><br />

qual<strong>que</strong>r outro produto capitalista? Não seria o caso de essas coletividades se<br />

revel<strong>ar</strong>em, como <strong>tudo</strong> o mais, apenas temporárias, provisórias, condenadas à<br />

obsolescência? M<strong>ar</strong>x, em 1856, se referirá aos operários da indústria como “homens-<br />

fruto de uma moda passageira (...), nada mais <strong>que</strong> uma invenção dos tempos<br />

moder<strong>no</strong>s, como o próprio maquinário”. Se isso <strong>é</strong> correto, sua solid<strong>ar</strong>iedade, embora<br />

impressiva em um dado momento, poderá mostr<strong>ar</strong>-se tão transitória quanto as<br />

máquinas <strong>que</strong> eles operam ou os produtos <strong>que</strong> daí resultam. Os trabalhadores podem<br />

d<strong>ar</strong>-se mútuo apoio, hoje, na assembl<strong>é</strong>ia ou na linha de pi<strong>que</strong>te, p<strong>ar</strong>a se verem<br />

dispersados amanhã, em meio a outras coletividades, sob outras condições, outros<br />

processos e produtos, outras necessidades e interesses. Uma vez mais, as formas<br />

abstratas do capitalismo p<strong>ar</strong>ecem subsistir — capital, trabalho assal<strong>ar</strong>iado,<br />

mercadorias, exploração, valor excedente — enquanto seus conteúdos huma<strong>no</strong>s se<br />

virem <strong>ar</strong>remessados num fluxo perp<strong>é</strong>tuo. Como poderão eventuais vínculos huma<strong>no</strong>s<br />

remanescentes crescer e frutific<strong>ar</strong> num solo assim precário e movente?<br />

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