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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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problemas <strong>que</strong> permeiam o livro desconcertam tamb<strong>é</strong>m a cidade: os próprios<br />

cidadãos de Petersburgo estão sendo <strong>ar</strong>rastados e tragados pelo peso e<br />

intensidade das tradições da cidade — inclusive suas tradições de rebelião.<br />

242<br />

Os principais personagens de Bieli são: Apollon Apollo<strong>no</strong>vich Ableukov, um oficial<br />

imperial de alta patente, inspirado livremente <strong>no</strong> g<strong>é</strong>lido e sinistro <strong>ar</strong>qui-reacionário<br />

Konstantin Pobedo<strong>no</strong>stsev, ideólogo da extrema-direita do fim do s<strong>é</strong>culo, patro<strong>no</strong><br />

de massacres organizados; o filho, Nikolai, um jovem bonito, lânguido,<br />

imaginativo e fraco, pertencente à tradição do homem sup<strong>é</strong>rfluo, <strong>que</strong> se alterna<br />

entre o enfado e a meditação em seu qu<strong>ar</strong>to, veste roupas estranhas p<strong>ar</strong>a choc<strong>ar</strong><br />

a alta sociedade e escreve ensaios proclamando a destruição de todos os valores;<br />

Alexander Dudkin, um pobre e asc<strong>é</strong>tico intelectual raz<strong>no</strong>chinets e membro do<br />

subterrâneo revolucionário; e o misterioso Lippanchenko, um agente duplo<br />

livremente inspirado em Azev (<strong>que</strong> usou o <strong>no</strong>me Lippanchenko como um de seus<br />

pseudônimos), <strong>que</strong> concebe o pla<strong>no</strong> mal<strong>é</strong>volo responsável em grande p<strong>ar</strong>te pela<br />

força da n<strong>ar</strong>rativa de Bieli; em volta deles, agitando-se convulsivamente, atirando-<br />

os p<strong>ar</strong>a lá e p<strong>ar</strong>a cá, a própria cidade de Petersburgo.<br />

O Projeto Nevski ainda <strong>é</strong>, em 1905, misterioso e adorável e ainda evoca reações<br />

líricas: “De <strong>no</strong>ite, uma iluminação ofuscante inunda a avenida. Lá <strong>no</strong> meio, a<br />

intervalos reguläres, pendem os globos das luzes el<strong>é</strong>tricas. Nos lados, brincam os<br />

mutantes e resplandecentes letreiros das lojas. Aqui, o súbito tremul<strong>ar</strong> dos rubis,<br />

lá, o tremul<strong>ar</strong> das esmeraldas. Um segundo depois os rubis estão lá e as<br />

esmeraldas aqui” (1, 31). E a Nevski ainda <strong>é</strong>, tanto quanto fora na <strong>é</strong>poca de Gogol<br />

e Dostoievski, a linha de comunicações de Petersburgo. Só <strong>que</strong> agora, em 1905,<br />

<strong>no</strong>vas mensagens a atravessam. Elas provêm principalmente da classe<br />

trabalhadora, consciente e intensamente ativa.<br />

Petersburgo está rodeada por um anel de fábricas de muitas chamin<strong>é</strong>s.<br />

Como um enxame, muitos milh<strong>ar</strong>es de pessoas a elas se dirigem de<br />

manhã, e todos os subúrbios estão vazios. Todas as. fábricas<br />

experimentavam agora (outubro de 1905) um estado de terrível agitação.<br />

Os trabalhadores se transformavam em sombras tag<strong>ar</strong>elas. Entre elas<br />

circulavam revólveres Browning. E alguma coisa mais.<br />

A agitação <strong>que</strong> cercava Petersburgo então começou a penetr<strong>ar</strong> <strong>no</strong> próprio<br />

centro da cidade. Primeiro tomou as ilhas, então atravessou as pontes<br />

Liteny e Nikolaievski. Uma miríade humana circulava pela Nevski. Por<strong>é</strong>m, a<br />

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