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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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força <strong>que</strong> ele esb<strong>ar</strong>r<strong>ar</strong> em mim.”<br />

Não há fuga ou subterfúgio: a exigência de igualdade na rua <strong>é</strong> tão radical<br />

quanto o seria exigir primazia — do ponto de vista do oficial, ela <strong>é</strong> ainda mais<br />

radical — e irá envolvê-lo em problemas da mesma forma. Por<strong>é</strong>m, <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m mais<br />

realista: o oficial, afinal, tem o dobro de seu tamanho; e o Homem do Subterrâneo<br />

considera as forças materiais bem mais seriamente <strong>que</strong> os heróis materialistas de<br />

Que Fazer? Ele se preocupa com sua ap<strong>ar</strong>ência e ador<strong>no</strong>s, com as roupas —<br />

toma dinheiro emprestado p<strong>ar</strong>a compr<strong>ar</strong> um casaco de ap<strong>ar</strong>ência mais<br />

respeitável —, por<strong>é</strong>m sua vestimenta não deve ser respeitável demais, senão o<br />

significado do confronto se perderia: ele tent<strong>ar</strong>á se defender, física e verbalmente,<br />

não apenas do oficial, mas tamb<strong>é</strong>m — e isso <strong>é</strong> igualmente importante — diante<br />

da multidão. Sua afirmação não será somente uma reivindicação pessoal contra<br />

um oficial, mas um testamento político endereçado a toda a sociedade russa. Um<br />

microcosmo dessa sociedade est<strong>ar</strong>á fluindo na Nevski, ele <strong>que</strong>r deter não só o<br />

oficial, mas<br />

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tamb<strong>é</strong>m a sociedade, at<strong>é</strong> <strong>que</strong> reconheçam o <strong>que</strong> ele veio a compreender como<br />

sua dignidade humana.<br />

Após muitos ensaios, chega o grande dia. Tudo está pronto. Lentamente,<br />

deliberadamente, tal qual Lopukhov ou Matt Dillon, o Homem do Subterrâneo se<br />

aproxima da Nevski. Mas, de alguma forma, as coisas não dão certo. No início,<br />

não consegue encontr<strong>ar</strong> seu homem — o oficial não se acha em qual<strong>que</strong>r lug<strong>ar</strong><br />

da rua. Depois o localiza, por<strong>é</strong>m o homem desap<strong>ar</strong>ece como uma miragem assim<br />

<strong>que</strong> <strong>no</strong>sso herói se aproxima dele. Finalmente, mira o alvo, apenas p<strong>ar</strong>a perder a<br />

coragem e se encolher <strong>no</strong> último minuto. Quando chega bem perto do oficial,<br />

retrocede apavorado, tropeça e cai aos p<strong>é</strong>s do oficial. A única coisa <strong>que</strong> impede o<br />

Homem do Subterrâneo de morrer de humilhação <strong>é</strong> o fato de <strong>que</strong> o oficial ainda<br />

não se apercebeu de nada. Dostoievski, <strong>no</strong> seu melhor estilo de humor negro,<br />

prolonga sem cess<strong>ar</strong> a agonia do herói, e, quando esse já perdeu quase de todo<br />

a esperança, o oficial ap<strong>ar</strong>ece na multidão e:<br />

De chofre, a três passos de meu inimigo, inesperadamente me decidi —<br />

fechei os olhos e (...) chocamo-<strong>no</strong>s com força, ombro a ombro. Não cedi<br />

nem um milímetro e passei por ele, absolutamente de igual p<strong>ar</strong>a igual!<br />

(...) Está cl<strong>ar</strong>o <strong>que</strong> sofri o golpe mais violento — ele era mais forte —, mas<br />

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