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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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omances mais ricos e profundos da d<strong>é</strong>cada de 50, Invisible Man (1952), de Ralph<br />

Ellison, e O Tambor (1959), de Günter Grass: ambos contêm brilhantes percepções da<br />

existência espiritual e política tal como foi vivida nas cidades do passado recente — <strong>no</strong><br />

H<strong>ar</strong>lem e na Danzig dos a<strong>no</strong>s 30 — mas, embora os dois autores avançassem<br />

cro<strong>no</strong>logicamente, nenhum deles foi capaz de conceber ou de se engaj<strong>ar</strong> <strong>no</strong> presente —<br />

a vida das cidades e das sociedades do pós-guerra nas quais suas obras vieram à luz.<br />

Em si própria, essa ausência pode ser tomada como a prova mais <strong>no</strong>tável da pobreza<br />

espiritual do ambiente do <strong>no</strong>vo pós-guerra. Ironicamente, essa pobreza pode ter<br />

efetivamente alimentado o desenvolvimento do modernismo, ao forç<strong>ar</strong> <strong>ar</strong>tistas e<br />

pensadores a recorrer a seus próprios recursos e a revel<strong>ar</strong> <strong>no</strong>vas profundezas do<br />

espaço interior. Ao mesmo tempo, ela devorava a forma sutil, as raízes do modernismo<br />

ao segreg<strong>ar</strong> a sua vida imaginativa do<br />

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mundo do dia-a-dia moder<strong>no</strong>, onde os homens e as mulheres reais tinham <strong>que</strong> se<br />

moviment<strong>ar</strong> e viver. 9<br />

A cisão entre o espírito moder<strong>no</strong> e o ambiente modernizado foi uma fonte fundamental<br />

de angústia e reflexão <strong>no</strong> fim dos a<strong>no</strong>s 50. À medida <strong>que</strong> a d<strong>é</strong>cada se <strong>ar</strong>rastava, as<br />

pessoas dotadas de imaginação tornavam-se crescentemente determinadas não só a<br />

compreender esse grande abismo, como tamb<strong>é</strong>m — por meio da <strong>ar</strong>te, do pensamento e<br />

da ação — a ultrapassá-lo. Foi esse desejo <strong>que</strong> animou livros tão diversos como A<br />

Condição Humana, de Hannah Arendt, Advertisements for Myself, de Norman Mailer,<br />

Vida contra a Morte, de Norman O. Brown, e Growing Up Absurd, de Paul Goodman.<br />

Constituía uma obsessão consumidora e não-consumada de dois dos mais vigorosos<br />

personagens ficcionais do final dos a<strong>no</strong>s 50: a Anna Wolf de Doris Lessing, cujos<br />

cader<strong>no</strong>s transbordavam de confissões inacabadas e manifestos pela liberação não-<br />

publicados, e o Moses Herzog de Saul Bellow, cujo instrumento eram as c<strong>ar</strong>tas não-<br />

terminadas e sempre por envi<strong>ar</strong> a todos os grandes poderes do mundo.<br />

Eventualmente, por<strong>é</strong>m, as c<strong>ar</strong>tas eram terminadas, assinadas e remetidas; <strong>no</strong>vos<br />

modos de linguagem modernista ap<strong>ar</strong>eceram gradativamente, ao mesmo tempo mais<br />

pessoais e mais políticos <strong>que</strong> a linguagem da d<strong>é</strong>cada de 50, <strong>no</strong>s quais os homens e as<br />

mulheres moder<strong>no</strong>s podiam se confront<strong>ar</strong> com as <strong>no</strong>vas estruturas físicas e sociais <strong>que</strong><br />

haviam se desenvolvido ao seu redor. No <strong>no</strong>vo modernismo, os gigantescos engenhos e<br />

sistemas da construção do pós-guerra desempenhavam um papel simbólico central.<br />

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