26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

115<br />

seriam capazes de transcendê-lo, de <strong>que</strong> poderiam viver e trabalh<strong>ar</strong> livremente, p<strong>ar</strong>a<br />

al<strong>é</strong>m de suas <strong>no</strong>rmas e exigências. 17<br />

A intenção de M<strong>ar</strong>x, ao <strong>ar</strong>ranc<strong>ar</strong> os halos de suas cabeças, <strong>é</strong> mostr<strong>ar</strong> <strong>que</strong> ningu<strong>é</strong>m na<br />

sociedade burguesa pode ser tão puro, tão seguro ou tão livre. As teias e<br />

ambigüidades do mercado são de tal ordem <strong>que</strong> a todos capturam e em<strong>ar</strong>anham. Os<br />

intelectuais precisam reconhecer a intensidade de sua dependência — tamb<strong>é</strong>m<br />

espiritual, não só econômica — em relação à sociedade burguesa <strong>que</strong> desprezam.<br />

Nunca será possível sobrepuj<strong>ar</strong> essas contradições se não as enfrent<strong>ar</strong>mos direta e<br />

abertamente. Eis o <strong>que</strong> <strong>que</strong>r dizer despir os halos. 18<br />

Essa imagem, como todas as grandes imagens na história da literatura e do<br />

pensamento, possui ressonâncias <strong>que</strong> seu criador jamais poderia ter antevisto. Em<br />

primeiro lug<strong>ar</strong>, a acusação <strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x faz às vangu<strong>ar</strong>das <strong>ar</strong>tísticas e científicas do s<strong>é</strong>culo<br />

XIX pode ser da mesma forma endereçada às “vangu<strong>ar</strong>das” leninistas do s<strong>é</strong>culo XX,<br />

<strong>que</strong> manifestam o propósito idêntico — tamb<strong>é</strong>m infundado — de transcender o mundo<br />

vulg<strong>ar</strong> da necessidade, do interesse, do cálculo egoísta e da exploração brutal. Em<br />

segundo lug<strong>ar</strong>, por<strong>é</strong>m, ela levanta <strong>que</strong>stões a respeito da própria imagem romântica<br />

<strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x tinha da classe trabalhadora. Se ser um trabalhador assal<strong>ar</strong>iado <strong>é</strong> a antítese<br />

de ter um halo, como pode M<strong>ar</strong>x fal<strong>ar</strong> do prolet<strong>ar</strong>iado como uma classe de <strong>no</strong>vos<br />

homens, especialmente prep<strong>ar</strong>ados p<strong>ar</strong>a transcender as contradições da vida<br />

moderna? Na verdade, podemos lev<strong>ar</strong> esse <strong>que</strong>stionamento ainda mais adiante.<br />

Seguindo a visão <strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x desdobra da modernidade e levando em conta todas as<br />

suas ironias e ambigüidades endêmicas, como poderemos esper<strong>ar</strong> <strong>que</strong> algu<strong>é</strong>m seja<br />

capaz de transcender a <strong>tudo</strong> isso?<br />

Uma vez mais defrontamos o problema já antes localizado: a tensão entre as intuições<br />

críticas de M<strong>ar</strong>x e suas esperanças radicais. Minha ênfase, neste ensaio, se volta p<strong>ar</strong>a<br />

as subcorrentes c<strong>é</strong>ticas e críticas do pensamento de M<strong>ar</strong>x. Alguns leitores talvez se<br />

inclinem a acat<strong>ar</strong> apenas a crítica e a autocrítica, desc<strong>ar</strong>tando as esperanças como<br />

utópicas e ingênuas. Fazer isso, por<strong>é</strong>m, seria negligenci<strong>ar</strong> o <strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x viu como o ponto<br />

essencial do pensamento crítico. A crítica, como ele a compreendeu, <strong>é</strong> p<strong>ar</strong>te de um<br />

incessante processo dial<strong>é</strong>tico. Foi concebida p<strong>ar</strong>a ser dinâmica, p<strong>ar</strong>a mover e inspir<strong>ar</strong> a<br />

pessoa criticada a ultrapass<strong>ar</strong> tanto as críticas como a si própria, p<strong>ar</strong>a impelir ambos os<br />

pólos na direção de uma <strong>no</strong>va síntese. Portanto, desmasc<strong>ar</strong><strong>ar</strong> falsas proclamações de<br />

118

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!