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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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Moscou <strong>no</strong> prazo de uma d<strong>é</strong>cada atingiu inúmeras pessoas, como Sergei Eisenstein,<br />

como num retrocesso à Moscou de Ivan o Terrível. “A cultura da era de Stalin”, defende<br />

James Billington, “p<strong>ar</strong>ece mais intimamente ligada com a antiga Moscóvia <strong>que</strong> mesmo<br />

com as mais toscas etapas do radicalismo baseado em São Petersburgo. (...) Com<br />

Stalin <strong>no</strong> Kremlin, Moscou ao me<strong>no</strong>s tirou sua vingança sobre São Petersburgo,<br />

buscando v<strong>ar</strong>rer o infatigável reformismo e o cosmopolitismo crítico <strong>que</strong> essa ‘janela p<strong>ar</strong>a<br />

o Ocidente’ sempre simbolizou” . 58<br />

A história da União Sovi<strong>é</strong>tica teria seguido outro caminho se Petersburgo tivesse<br />

permanecido como seu ponto focai? Provavelmente não. Mas vale <strong>no</strong>t<strong>ar</strong> <strong>que</strong><br />

Petersburgo, em 1917, continha a população urbana mais intensamente consciente e<br />

mais ativamente independente de todo o mundo. Es<strong>tudo</strong>s recentes torn<strong>ar</strong>am cl<strong>ar</strong>o <strong>que</strong>,<br />

contr<strong>ar</strong>iando as alegações da hagiografia sovi<strong>é</strong>tica, Lenin e os bolchevi<strong>que</strong>s não cri<strong>ar</strong>am<br />

e tampouco dirigiram o movimento de massas revolucionário de Petersburgo;<br />

reconheceram o dinamismo e a potencialidade desse movimento espontâneo, lig<strong>ar</strong>am-<br />

se tenazmente a ele e ascenderam ao poder à sua crista. 59 Quando consolid<strong>ar</strong>am seu<br />

poder e suprimiram toda a iniciativa popul<strong>ar</strong> espontânea após 1921, os bolchevi<strong>que</strong>s<br />

estavam<br />

255<br />

distantes da cidade e da população <strong>que</strong> seria capaz de enfrentá-los e chamá-los<br />

a prest<strong>ar</strong> contas. De qual<strong>que</strong>r forma, <strong>é</strong> possível <strong>que</strong> fosse mais difícil p<strong>ar</strong>a um<br />

gover<strong>no</strong> de Petersburgo impor às massas ativas e audaciosas da cidade a<br />

desamp<strong>ar</strong>ada passividade dos antigos tempos do cz<strong>ar</strong>ismo.<br />

Nenhum autor mostrou-se mais pes<strong>ar</strong>oso com o falecimento de Petersburgo, ou<br />

mais determinado a lembr<strong>ar</strong> e redimir o <strong>que</strong> se perdeu, do <strong>que</strong> Ossip Mandelstam.<br />

Nascido em 1891, assassinado em um dos campos de trabalho forçado de Stalin,<br />

em 1938, ele foi reconhecido na d<strong>é</strong>cada passada como um dos grandes poetas<br />

moder<strong>no</strong>s. Ao mesmo tempo, Mandelstam <strong>é</strong> um escritor profundamente<br />

tradicional, na tradição de Petersburgo, <strong>que</strong>, como procurei mostr<strong>ar</strong>, <strong>é</strong><br />

p<strong>ar</strong>ticul<strong>ar</strong>mente moderna desde o princípio, mas moderna de uma forma<br />

distorcida, retorcida e surreal. Mandelstam acalentou e proclamou o modernismo<br />

de Petersburgo num momento histórico em <strong>que</strong> Moscou ditava e impunha o seu<br />

modo de modernidade, uma modernidade <strong>que</strong> se supunha torn<strong>ar</strong> obsoletas<br />

todas as tradições de Petersburgo.<br />

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