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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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sociais — <strong>que</strong> os bulev<strong>ar</strong>es trouxeram à luz. Assim mesmo, a solução radical muito<br />

freqüentemente vem a ser dissolução: pôr abaixo os bulev<strong>ar</strong>es, apag<strong>ar</strong> as luzes<br />

brilhantes, expelir e recoloc<strong>ar</strong> as pessoas, elimin<strong>ar</strong> as fontes de beleza e alegria <strong>que</strong> a<br />

cidade moderna trouxe à existência. Devemos esper<strong>ar</strong>, como Baudelaire às vezes<br />

esperou, por um futuro em <strong>que</strong> a alegria e a beleza, como as luzes da cidade, venham<br />

a ser p<strong>ar</strong>tilhadas por todos. Mas <strong>no</strong>ssa esperança tende a ser diluída pela tristeza<br />

auto-irônica <strong>que</strong> permeia o <strong>ar</strong> da cidade de Baudelaire.<br />

4. O LODAÇAL DE MACADAME<br />

Nossa próxima cena moderna <strong>ar</strong><strong>que</strong>típica se encontra <strong>no</strong> poema em prosa “A Perda do<br />

Halo” (Spleen de P<strong>ar</strong>is, n? 46), escrito em 1865, mas rejeitado pela imprensa e só<br />

publicado após a morte de Baudelaire. Como “Os Olhos dos Pobres”, este poema <strong>é</strong><br />

ambientado <strong>no</strong> bulev<strong>ar</strong>; trata da confrontação <strong>que</strong> o ambiente impõe ao sujeito, e<br />

termina, como o título sugere, com a perda da i<strong>no</strong>cência. Aqui, por<strong>é</strong>m, o encontro não se<br />

dá entre duas pessoas, ou entre pessoas de diferentes classes sociais, mas, antes,<br />

entre um indivíduo isolado e as forças sociais, abstratas, embora concretamente<br />

ameaçadoras. Aqui, o ambiente, as imagens e o tom emocional são enigmáticos e<br />

alusivos; o poeta p<strong>ar</strong>ece interessado em promover o desequilíbrio dos leitores, e ele<br />

próprio talvez esteja desequilibrado.<br />

“A Perda do Halo” se desenvolve na forma de diálogo entre um poeta e um “homem<br />

comum”, diálogo <strong>que</strong> se trava em un mauvais lieu, um lug<strong>ar</strong> sinistro ou de má<br />

reputação, talvez um bordel, p<strong>ar</strong>a emb<strong>ar</strong>aço de ambos. O homem comum, <strong>que</strong> sempre<br />

aliment<strong>ar</strong>a uma id<strong>é</strong>ia elevada do <strong>ar</strong>tista, sente-se frustrado ao encontr<strong>ar</strong> um deles em<br />

tal lug<strong>ar</strong>:<br />

150<br />

O quê! você aqui, meu amigo? você em um lug<strong>ar</strong> como esse? você,<br />

degustador de ambrósia e de quintessências! Estou escandalizado!<br />

O poeta então prossegue, explicando-se:<br />

Meu amigo, você sabe como me aterrorizam os cavalos e os veículos?<br />

Bem, agora mesmo eu cruzava o bulev<strong>ar</strong>, com muita pressa,<br />

chapinhando na lama, em meio ao caos, com a morte galopando na<br />

minha direção, de todos os lados, quando fiz um movimento brusco e o<br />

halo despencou de minha cabeça indo cair <strong>no</strong> lodaçal de macadame. Eu<br />

estava muito assustado p<strong>ar</strong>a recolhê-lo. Pensei <strong>que</strong> seria me<strong>no</strong>s<br />

153

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