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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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acima de todos, expuseram com lucidez a verdade e começ<strong>ar</strong>am a lut<strong>ar</strong> pelo<br />

controle civil da energia atômica, pelas restrições aos testes nucle<strong>ar</strong>es e pelo<br />

controle internacional do <strong>ar</strong>mamento. u Seu projeto ajudou a manter viva certa<br />

consciência fáustica e a contest<strong>ar</strong> a proclamação mefistof<strong>é</strong>lica de <strong>que</strong> o homem<br />

só poderia realiz<strong>ar</strong> grandes empreendimentos obliterando qual<strong>que</strong>r sentimento de<br />

culpa e preocupação. Mostr<strong>ar</strong>am como tais emoções podem conduzir a ações<br />

extremamente criativas <strong>no</strong> <strong>que</strong> diz respeito à sobrevivência da humanidade.<br />

Nos a<strong>no</strong>s recentes, os debates em tor<strong>no</strong> do poder nucle<strong>ar</strong> ger<strong>ar</strong>am <strong>no</strong>vas<br />

metamorfoses de Fausto. Em 1971, Alvin Weinberg, um brilhante físico e<br />

administrador e por muitos a<strong>no</strong>s diretor do Laboratório de Oak Ridge, invocou<br />

Fausto <strong>no</strong> clímax de um discutidíssimo depoimento sobre “Instituições Sociais e<br />

Energia Nucle<strong>ar</strong>”:<br />

Nós, envolvidos em ciência nucle<strong>ar</strong>, estabelecemos uma transação fáustica<br />

com a sociedade. De um lado, oferecemos — <strong>no</strong> combustível nucle<strong>ar</strong><br />

catalítico — uma inexaurível fonte de energia. (...) Mas o preço <strong>que</strong><br />

exigimos da sociedade por essa mágica fonte de energia <strong>é</strong> uma vigilância e<br />

uma longevidade das instituições sociais a <strong>que</strong> não estamos nem um<br />

pouco habituados.<br />

A fim de preserv<strong>ar</strong> essa “infinita fonte de energia b<strong>ar</strong>ata e limpa”, homens,<br />

sociedades e nações do futuro deverão manter “eterna vigilância” sobre graves<br />

perigos não só tec<strong>no</strong>lógicos — estes seriam, de fato, os me<strong>no</strong>s graves —, mas<br />

sociais e políticos.<br />

Este livro não <strong>é</strong> o lug<strong>ar</strong> ideal p<strong>ar</strong>a contest<strong>ar</strong> os m<strong>é</strong>ritos e dem<strong>é</strong>ritos da<br />

desconcertante e profundamente emblemática transação nucle<strong>ar</strong> mencionada<br />

por Weinberg. Mas <strong>é</strong> o lug<strong>ar</strong> p<strong>ar</strong>a assinal<strong>ar</strong> o <strong>que</strong> ele faz em relação a Fausto. O<br />

ponto decisivo aqui <strong>é</strong> <strong>que</strong> os cientistas (“Nós, envolvidos em ciência nucle<strong>ar</strong>”)<br />

não desempenham mais o papel de Fausto. Em vez disso, assumem o papel do<br />

personagem <strong>que</strong> propõe a negociação — ou seja, Mefistófeles, “o espírito <strong>que</strong><br />

nega <strong>tudo</strong>”. Uma estranha e ricamente ambígua autoimagem, não destinada a<br />

ganh<strong>ar</strong> prêmios de relações públicas, por<strong>é</strong>m cheia de encanto em sua (talvez<br />

inconsciente) candura. Todavia, <strong>é</strong> o corolário dessa encenação <strong>que</strong> importa mais:<br />

o protagonista fáustico proposto por Weinberg, <strong>que</strong> deve decidir se aceita ou<br />

rejeita o negócio, <strong>é</strong> “a sociedade” — ou seja, todos nós. A id<strong>é</strong>ia subjacente <strong>é</strong> <strong>que</strong> o<br />

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