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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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tráfego ali; trabalho aqui, moradias acolá; ricos aqui, pobres lá adiante; <strong>no</strong> meio,<br />

b<strong>ar</strong>reiras de grama e concreto, p<strong>ar</strong>a <strong>que</strong> os halos possam começ<strong>ar</strong> a crescer outra vez<br />

sobre as cabeças das pessoas. *<br />

Essa esp<strong>é</strong>cie de modernismo deixou m<strong>ar</strong>cas profundas nas <strong>no</strong>ssas vidas. O<br />

desenvolvimento das cidades <strong>no</strong>s últimos qu<strong>ar</strong>enta a<strong>no</strong>s, tanto <strong>no</strong>s países capitalistas<br />

como <strong>no</strong>s socialistas, combateu de forma sistemática, e em muitos casos conseguiu<br />

elimin<strong>ar</strong>, o “caos” da vida urbana do s<strong>é</strong>culo XIX. Nos <strong>no</strong>vos ambientes urba<strong>no</strong>s — de<br />

Lefrak City a Century City, do Peachtree Plaza, de Atlanta, ao Renaissance Center, de<br />

Detroit — a velha rua moderna, com sua volátil mistura de pessoas e tráfego, negócios<br />

e residências, ricos e pobres, foi eliminada, cedendo lug<strong>ar</strong> a.comp<strong>ar</strong>timentos sep<strong>ar</strong>ados,<br />

com entradas e saídas estritamente monitorizadas e controladas, atividade de c<strong>ar</strong>ga e<br />

desc<strong>ar</strong>ga por trás da cena, de modo <strong>que</strong> estacionamentos e g<strong>ar</strong>agens subterrâneas<br />

representam a única mediação possível.<br />

Todos esses espaços e todas as pessoas <strong>que</strong> os ocupam são bem mais organizados e<br />

protegidos do <strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r espaço ou pessoa na cidade de Baudelaire. Uma <strong>no</strong>va<br />

onda de modernização, apoiada em uma ideologia de modernismo em desenvolvimento,<br />

neutralizou as forças<br />

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anárquicas e explosivas <strong>que</strong> a modernização urbana, outrora, havia reunido. Nova<br />

Ior<strong>que</strong> <strong>é</strong> hoje uma das poucas cidades americanas em <strong>que</strong> ainda poderiam ocorrer as<br />

cenas primordiais de Baudelaire. E essas velhas cidades, ou segmentos de cidades,<br />

gu<strong>ar</strong>dam pressões incomensuravelmente mais ameaçadoras do <strong>que</strong> a<strong>que</strong>las divisadas<br />

por Baudelaire. São cidades econômica e politicamente condenadas como obsoletas,<br />

assediadas por uma deterioração crônica, minadas pelo desinvestimento, vazias de<br />

oportunidade de crescimento, constantemente perdendo terre<strong>no</strong> p<strong>ar</strong>a áreas<br />

consideradas mais “modernas”. A trágica ironia do urbanismo modernista <strong>é</strong> <strong>que</strong> seu<br />

* Le Corbusier nunca chegou a fazer muitos avanços em seus infatigáveis esforços p<strong>ar</strong>a destruir P<strong>ar</strong>is. Mas<br />

muitas de suas visões mais grotescas se concretiz<strong>ar</strong>am na era Pompidou, quando vias expressas elevadas<br />

dividiram a Rive Droite, os grandes mercados de Les Halles foram demolidos, dezenas de ruas prósperas foram<br />

eliminadas e bairros veneráveis, na sua totalidade, se transform<strong>ar</strong>am em “les promoteurs” e desap<strong>ar</strong>eceram sem<br />

deix<strong>ar</strong> vestígios. Veja-se Norma Evenson, P<strong>ar</strong>is: Um S<strong>é</strong>culo de Mudança, 1878-1978 (Yale, 1979); Jane<br />

Kramer, “Um Repórter na Europa: P<strong>ar</strong>is”. In: The New Yorker, 19 / 6 / 1978; Rich<strong>ar</strong>d Cobb, “O Assassinato de<br />

P<strong>ar</strong>is”. In: New York Review of Books, 7 / 2 / 1980, e vários dos últimos filmes de God<strong>ar</strong>d, especialmente Duas<br />

ou Três Coisas <strong>que</strong> eu Sei Dela (1973).<br />

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