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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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mesmo tempo, despertados pelo comunismo ou latentes <strong>no</strong> seu bojo? É fácil imagin<strong>ar</strong><br />

como uma sociedade empenhada <strong>no</strong> livre desenvolvimento de cada um e de todos<br />

pode muito bem desenvolver suas próprias e peculi<strong>ar</strong>es formas de niilismo. De fato,<br />

um niilismo comunista pode vir a ser bem mais explosivo e desintegrador <strong>que</strong> seu<br />

antecedente burguês — embora tamb<strong>é</strong>m mais ousado e original —, pois, enquanto o<br />

capitalismo reduz as infinitas possibilidades da vida moderna a limites<br />

preestabelecidos, o comunismo de M<strong>ar</strong>x pode lanç<strong>ar</strong> o ego liberado na direção de<br />

imensos espaços huma<strong>no</strong>s desconhecidos, sem qual<strong>que</strong>r limite. 15<br />

5. A PERDA DO HALO<br />

Todas as ambigüidades do pensamento de M<strong>ar</strong>x estão cristalizadas em uma de suas<br />

imagens mais candentes, a última <strong>que</strong> iremos explor<strong>ar</strong> aqui: “A burguesia despiu de<br />

seu halo todas as atividades at<strong>é</strong> então honradas e vistas com reverente respeito.<br />

Transformou o m<strong>é</strong>dico, o advogado, o pregador, o poeta, o homem de ciência (Mann<br />

der Wissenschaft * ) em trabalhadores assal<strong>ar</strong>iados” (p. 476). O halo, p<strong>ar</strong>a<br />

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M<strong>ar</strong>x, <strong>é</strong> o símbolo primordial da experiência religiosa, a experiência de algo sagrado.<br />

P<strong>ar</strong>a M<strong>ar</strong>x, como p<strong>ar</strong>a seu contemporâneo Kierkega<strong>ar</strong>d, a experiência, mais <strong>que</strong> a<br />

crença, o dogma e a teologia, compõe o substrato da vida religiosa. O halo divide a vida<br />

em sagrada e profana: cria uma aura de respeito e radiancia sagradas em tor<strong>no</strong> da<br />

figura <strong>que</strong> o ostenta; a figura santificada <strong>é</strong> expelida da condição humana matricial,<br />

inexoravelmente afastada das necessidades e pressões <strong>que</strong> impelem homens e<br />

mulheres à sua volta.<br />

M<strong>ar</strong>x acredita <strong>que</strong> o capitalismo tende a destruir essa modalidade de experiência, em<br />

todos: “<strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> sagrado <strong>é</strong> profanado”; ningu<strong>é</strong>m <strong>é</strong> intocável, a vida se torna<br />

inteiramente dessantificada. De vários modos, M<strong>ar</strong>x sabe <strong>que</strong> isso <strong>é</strong> assustador:<br />

* A palavra Wissenschaft pode ser traduzida de vários modos, estritamente como “ciência”, ou como<br />

“conhecimento”, “aprendizagem”, “escol<strong>ar</strong>idade” ou qual<strong>que</strong>r perseverante e s<strong>é</strong>rio empenho intelectual.<br />

Qual<strong>que</strong>r <strong>que</strong> seja a palavra escolhida, <strong>é</strong> crucial lembr<strong>ar</strong> <strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x fala aqui das prerrogativas do seu próprio<br />

grupo e, portanto, de si mesmo.<br />

Tenho usado de modo intermitente a palavra intelectuais como uma simplificação dos diversos grupos<br />

ocupacionais referidos conjuntamente por M<strong>ar</strong>x. Dou-me conta de <strong>que</strong> a palavra <strong>é</strong> um anacronismo <strong>no</strong> tempo<br />

de M<strong>ar</strong>x — prov<strong>é</strong>m da geração de Nietzsche —, mas tem a vantagem de reunir, tal <strong>é</strong> a intenção de M<strong>ar</strong>x,<br />

indivíduos de diversas ocupações <strong>que</strong>, apes<strong>ar</strong> de suas diferenças, têm em comum o trabalh<strong>ar</strong>em todos com a<br />

mente.<br />

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