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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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se<strong>que</strong>r em m<strong>ar</strong>cha. M<strong>ar</strong>x acredita <strong>que</strong> os cho<strong>que</strong>s, sublevações e catástrofes da vida<br />

na sociedade burguesa habilitam os<br />

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moder<strong>no</strong>s — agindo atrav<strong>é</strong>s deles, como ocorre com Le<strong>ar</strong> — a descobrir o <strong>que</strong><br />

eles “realmente são”. Mas, se a sociedade burguesa <strong>é</strong> volátil, como M<strong>ar</strong>x pensa<br />

<strong>que</strong> <strong>é</strong>, como poderão as pessoas se fix<strong>ar</strong> em qual<strong>que</strong>r esp<strong>é</strong>cie de individualidade<br />

“real”? Em meio a todas as possibilidades e necessidades <strong>que</strong> bomb<strong>ar</strong>deiam o<br />

indivíduo e todos os desencontrados movimentos <strong>que</strong> o impelem, como poderá<br />

algu<strong>é</strong>m definir de forma cabal <strong>que</strong>m <strong>é</strong> essencial e <strong>que</strong>m <strong>é</strong> acidental? A natureza<br />

do <strong>no</strong>vo homem moder<strong>no</strong>, desnudo, talvez se mostre tão vaga e misteriosa<br />

quanto a do velho homem, o homem vestido, talvez ainda mais vaga, pois não<br />

haverá mais ilusões quanto a uma verdadeira identidade sob as másc<strong>ar</strong>as. Assim,<br />

juntamente com a comunidade e a sociedade, a própria individualidade pode<br />

est<strong>ar</strong> <strong>desmancha</strong>ndo <strong>no</strong> <strong>ar</strong> moder<strong>no</strong>.<br />

4. A METAMORFOSE DOS VALORES<br />

O problema do niilismo emerge mais uma vez na última linha do texto de M<strong>ar</strong>x: “A<br />

burguesia transmudou toda a honra e dignidade pessoais em valor de troca; e<br />

em lug<strong>ar</strong> de todas as liberdades pelas quais os homens têm lutado colocou uma<br />

liberdade sem princípios — a livre troca”. O primeiro ponto aqui <strong>é</strong> o imenso poder<br />

do mercado na vida interior do homem moder<strong>no</strong>: este examina a lista de preços à<br />

procura de respostas a <strong>que</strong>stões não apenas econômicas mas metafísicas —<br />

<strong>que</strong>stões sobre o <strong>que</strong> <strong>é</strong> mais valioso, o <strong>que</strong> <strong>é</strong> mais ho<strong>no</strong>rável e at<strong>é</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> real.<br />

Quando afirma <strong>que</strong> todos os demais valores foram “transmudados” em valor de<br />

troca, M<strong>ar</strong>x aponta p<strong>ar</strong>a o fato de <strong>que</strong> a sociedade burguesa não elimi<strong>no</strong>u as<br />

velhas estruturas de valor, mas absorveu-as, mudadas. As velhas formas de<br />

honra e dignidade não morrem; são, antes, incorporadas ao mercado, ganham<br />

eti<strong>que</strong>tas de preço, ganham <strong>no</strong>va vida, enfim, como mercadorias. Com isso,<br />

qual<strong>que</strong>r esp<strong>é</strong>cie de conduta humana se torna permissível <strong>no</strong> instante em <strong>que</strong> se<br />

mostre eco<strong>no</strong>micamente viável, tornando-se “valiosa”; <strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> pag<strong>ar</strong> bem terá<br />

livre curso. Eis aí a essência do niilismo moder<strong>no</strong>. Dostoievski, Nietzsche e seus<br />

sucessores do s<strong>é</strong>culo XX atribuirão isso à ciência, ao racionalismo, à morte de<br />

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