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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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econhecem comp<strong>ar</strong>ando-se umas às outras segundo o modo como se sentam ou<br />

caminham. Na s<strong>ar</strong>jeta, pessoas são forçadas a se es<strong>que</strong>cer do <strong>que</strong> são enquanto lutam<br />

pela sobrevivência. A <strong>no</strong>va força <strong>que</strong> os bulev<strong>ar</strong>es trazem à existência, a força <strong>que</strong><br />

<strong>ar</strong>ranca o halo do herói, conduzindo-o a um <strong>no</strong>vo estado mental, <strong>é</strong> o tráfego moder<strong>no</strong>.<br />

Quando Haussmann deu início aos trabalhos <strong>no</strong>s bulev<strong>ar</strong>es, ningu<strong>é</strong>m entendeu por <strong>que</strong><br />

ele os <strong>que</strong>ria tão espaçosos: de trinta a cem metros de l<strong>ar</strong>gura. Só depois <strong>que</strong> o<br />

trabalho estava concluído <strong>é</strong> <strong>que</strong> as pessoas começ<strong>ar</strong>am a ver <strong>que</strong> essas estradas,<br />

imensamente amplas, meticulosamente retas, estendendo-se por quilômetros, seriam<br />

vias expressas ideais p<strong>ar</strong>a o tráfego pesado. O macadame, superfície com <strong>que</strong> foram<br />

pavimentados os bulev<strong>ar</strong>es, era <strong>no</strong>tavelmente macio e fornecia perfeita tração p<strong>ar</strong>a as<br />

patas dos cavalos. Pela primeira vez, corredores e condutores podiam, <strong>no</strong> coração da<br />

cidade, lanç<strong>ar</strong> seus animais em plena velocidade. O aperfeiçoamento das condições<br />

c<strong>ar</strong>roçáveis não só aument<strong>ar</strong>am a velocidade do tráfego previamente existente, mas —<br />

como as rodovias do s<strong>é</strong>culo XX f<strong>ar</strong>ão em escala ainda maior — colabor<strong>ar</strong>am p<strong>ar</strong>a ger<strong>ar</strong><br />

um volume de <strong>no</strong>vo tráfego mais intenso <strong>que</strong> o anterior, p<strong>ar</strong>a al<strong>é</strong>m do <strong>que</strong> Haussmann e<br />

seus engenheiros tinham previsto. Entre 1850 e 1870, enquanto a população central da<br />

cidade (excluindo as <strong>no</strong>vas áreas suburbanas) cresceu perto de 25%, de cerca de um<br />

milhão e trezentos mil a um milhão e seiscentos e cinqüenta mil, o tráfego <strong>no</strong> interior da<br />

cidade talvez tenha triplicado, ou quadruplicado. Esse crescimento denuncia uma<br />

contradição na própria base do urbanismo de Napoleão e Haussmann. Como David<br />

Pinkney mostra, em seu excelente es<strong>tudo</strong> Napoleão III e a Reconstrução de P<strong>ar</strong>is, os<br />

bulev<strong>ar</strong>es <strong>ar</strong>teriais “foram desde o início sobrec<strong>ar</strong>regados com uma dupla função: d<strong>ar</strong><br />

vazão aos fluxos mais intensos de tráfego atrav<strong>é</strong>s da cidade e servir de principais ruas<br />

de com<strong>é</strong>rcio e negócios; à medida <strong>que</strong> o volume de tráfego crescia, as duas funções se<br />

mostr<strong>ar</strong>am incompatíveis”. A situação era especialmente desafiadora e ameaçadora<br />

p<strong>ar</strong>a a vasta maioria dos p<strong>ar</strong>isienses <strong>que</strong> caminhavam. Os pavimentos de macadame,<br />

fonte de p<strong>ar</strong>ticul<strong>ar</strong> orgulho p<strong>ar</strong>a o Imperador — <strong>que</strong> jamais andou a p<strong>é</strong> —, eram<br />

poeirentos <strong>no</strong>s meses secos do verão e ficavam enlameados com a chuva e a neve.<br />

Haussmann, <strong>que</strong> discordou de Napoleão quanto ao macadame (um dos r<strong>ar</strong>os pontos<br />

de atrito entre eles) e <strong>que</strong> administrativamente sabotou os pla<strong>no</strong>s imperiais de revestir<br />

toda a cidade com ele, dizia <strong>que</strong> esse tipo de superfície exigia dos p<strong>ar</strong>isienses “ou ter<br />

uma<br />

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