26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

vemos mover-se p<strong>ar</strong>a fora de sua solidão e<br />

211<br />

lanç<strong>ar</strong>-se na ação, ou, pelo me<strong>no</strong>s, numa tentativa de ação; ele vibra com a<br />

possibilidade de encrenca. 32 É nesse momento <strong>que</strong> aprende sua primeira lição<br />

política: <strong>é</strong> impossível p<strong>ar</strong>a homens da classe dos funcionários caus<strong>ar</strong> problemas a<br />

homens da classe dos oficiais, por<strong>que</strong> esta última — a alta e baixa <strong>no</strong>brezas <strong>que</strong><br />

mesmo após 19 de fevereiro continuam a govern<strong>ar</strong> a Rússia — nem mesmo sabe<br />

<strong>que</strong> a outra classe, a multidão de proletários educados em escolas ou<br />

autodidatas de Petersburgo, existe. A tradução de Matlaw coloca muito bem o<br />

aspecto político: “eu não era um igual nem p<strong>ar</strong>a ser atirado janela afora”. Não<br />

pode haver qual<strong>que</strong>r esp<strong>é</strong>cie de encontro — mesmo violento — sem um mínimo de<br />

igualdade: os oficiais precis<strong>ar</strong>iam reconhecer os funcionários como seres<br />

huma<strong>no</strong>s <strong>que</strong> lá estão.<br />

Na fase seguinte da história, a<strong>no</strong>s mais t<strong>ar</strong>de, o Homem do Subterrâneo <strong>que</strong>bra a<br />

cabeça em vão buscando modos de efetiv<strong>ar</strong> esse reconhecimento. Ele segue o<br />

oficial por toda p<strong>ar</strong>te, vem a conhecer seu <strong>no</strong>me, sua casa, seus hábitos —<br />

suborna os porteiros —, por<strong>é</strong>m não se deixa ver (o oficial não o <strong>no</strong>tou quando ele<br />

estava a poucos centímetros de distância, então por <strong>que</strong> o <strong>no</strong>t<strong>ar</strong>ia agora?). Ele<br />

cria intermináveis fantasias sobre seu opressor e chega at<strong>é</strong>, na esteira dessa<br />

obsessão, a transform<strong>ar</strong> algumas delas em histórias e, a si, em autor (mas<br />

ningu<strong>é</strong>m se interessa por fantasias de funcionários sobre oficiais, daí ele<br />

permanecer um autor não-publicado). Decide desafi<strong>ar</strong> o oficial p<strong>ar</strong>a um duelo e<br />

chega a escrever uma c<strong>ar</strong>ta provocativa, todavia se convence de <strong>que</strong> o oficial<br />

nunca duel<strong>ar</strong>á com um civil de baixa casta (ele poderia ser expulso do corpo de<br />

oficiais se o fizesse), e a c<strong>ar</strong>ta não <strong>é</strong> enviada. O <strong>que</strong> <strong>é</strong> at<strong>é</strong> bom, ele conclui,<br />

por<strong>que</strong> por detrás da mensagem de ira e rancor transp<strong>ar</strong>ece um subtexto <strong>que</strong><br />

transpira um anseio abjeto pelo amor do inimigo. Na fantasia, ele se deixa<br />

proteger pelo algoz:<br />

A c<strong>ar</strong>ta foi redigida de tal modo <strong>que</strong>, se o oficial tivesse tido a me<strong>no</strong>r<br />

compreensão “do sublime e do belo”, certamente teria corrido p<strong>ar</strong>a mim,<br />

se enlaçado ao meu pescoço oferecendo-me sua amizade. E como seria<br />

bom! Viveríamos tão bem como amigos! Ele me defenderia com a<br />

imponência de s a apresentação^eu torná-lo-ia mais <strong>no</strong>bre com a minha<br />

cultura e, afinal, com minhas id<strong>é</strong>ias, e muita coisa mais poderia<br />

acontecer.<br />

220

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!