26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“De <strong>que</strong>m?”<br />

“Dele.”<br />

Eles se fix<strong>ar</strong>am de olhos <strong>ar</strong>regalados, e um os deixou cair horrorizado,<br />

enquanto uma pálida esperança brilhou <strong>no</strong>s olhos do outro.<br />

“Dou-lhe minha palavra de honra <strong>que</strong> nada tive a ver com isso.”<br />

Nikolai Apollo<strong>no</strong>vitch não acredita nele.<br />

“Bem, então o <strong>que</strong> significa <strong>tudo</strong> isso?”<br />

Nesse momento, enquanto cruzam o Neva a paisagem começa a sugerir<br />

significados; os dois homens acolhem suas sugestões e as desenvolvem. Chegam<br />

a direções diferentes, mas ambos os caminhos são desoladores.<br />

“Bem, então, o <strong>que</strong> significa isso?”<br />

E (Nikolai) olhou p<strong>ar</strong>a as extremidades da rua com olhos <strong>que</strong> nada viam.<br />

Como a rua tinha mudado, e como esses dias sombrios a tinham mudado!<br />

Um vento vindo da praia v<strong>ar</strong>reu, rasgou as últimas folhas, e Alexandre<br />

Iva<strong>no</strong>vich sabia de cor:<br />

Haverá, oh sim, haverá dias sangrentos, cheios de horror. E então — <strong>tudo</strong><br />

se reduzirá a cinzas. Oh redemoinho, oh turbilhão, últimos dias!<br />

P<strong>ar</strong>a Nikolai, esse mundo está ruindo, perdendo a cor e a vibração, afundando<br />

na entropia. P<strong>ar</strong>a Dudkin, está explodindo, sendo <strong>ar</strong>remessado p<strong>ar</strong>a uma colisão<br />

apocalíptica. P<strong>ar</strong>a ambos, con<strong>tudo</strong>, o movimento <strong>é</strong> p<strong>ar</strong>a a morte, e eles<br />

permanecem juntos, o raz<strong>no</strong>chinets pobre<br />

247<br />

e o filho do oficial imperial, unidos na passividade e senso de fatalidade,<br />

indefesos como folhas <strong>ar</strong>rastadas pelo vento. P<strong>ar</strong>a ambos, o final do a<strong>no</strong> de 1905<br />

pressagia a morte de todas as esperanças <strong>que</strong> esse a<strong>no</strong> trouxe à vida. Todavia,<br />

eles têm de prosseguir, enfrent<strong>ar</strong> a crise <strong>que</strong> os confronta mais severamente do<br />

<strong>que</strong> nunca — assim como a bomba continua a ti<strong>que</strong>ta<strong>que</strong><strong>ar</strong> — p<strong>ar</strong>a salv<strong>ar</strong>em o<br />

<strong>que</strong> puderem da vida e da honra.<br />

Agora, por<strong>é</strong>m, ao pass<strong>ar</strong>em pelo palácio de Inver<strong>no</strong> e ao entr<strong>ar</strong>em na Nevski, o<br />

dinamismo da rua os atinge como uma força alucinatória.<br />

Um enxame de chap<strong>é</strong>us-cocos rolou em sua direção, descendo a rua. E,<br />

com os chap<strong>é</strong>us-cocos, rolavam c<strong>ar</strong>tolas e espumas de plumas de<br />

avestruzes.<br />

N<strong>ar</strong>izes brotavam de todos os lug<strong>ar</strong>es.<br />

N<strong>ar</strong>izes em formas de bico: de águia, galo, pato e galinha, e — sem<br />

259

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!