26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

egionais <strong>que</strong> toca. Produção e consumo — e necessidades humanas — tornam-se<br />

cada vez mais internacionais e cosmopolitas.<br />

89<br />

O âmbito dos desejos e reivindicações humanas se amplia muito al<strong>é</strong>m da capacidade<br />

das indústrias locais, <strong>que</strong> então entram em colapso. A escala de comunicações se<br />

torna mundial, o <strong>que</strong> faz emergir uma mass media tec<strong>no</strong>logicamente sofisticada. O<br />

capital se concentra cada vez mais nas mãos de poucos. Camponeses e <strong>ar</strong>tesãos<br />

independentes não podem competir com a produção de massa capitalista e são<br />

forçados a abandon<strong>ar</strong> suas terras e fech<strong>ar</strong> seus estabelecimentos. A produção se<br />

centraliza de maneira progressiva e se racionaliza em fábricas altamente<br />

automatizadas. (No campo acontece o mesmo: fazendas se transformam em “fábricas<br />

agrícolas” e os camponeses <strong>que</strong> não abandonam o campo se transformam em<br />

proletários campesi<strong>no</strong>s.) Um vasto número de migrantes pobres são despejados nas<br />

cidades, <strong>que</strong> crescem como num passe de mágica — catastroficamente — do dia p<strong>ar</strong>a a<br />

<strong>no</strong>ite. P<strong>ar</strong>a <strong>que</strong> essas grandes mudanças ocorram com relativa uniformidade, alguma<br />

centralização legal, fiscal e administrativa precisa acontecer; e acontece onde <strong>que</strong>r <strong>que</strong><br />

chegue o capitalismo. Estados nacionais despontam e acumulam grande poder, embora<br />

esse poder seja solapado de forma contínua pelos interesses internacionais do capital.<br />

Enquanto isso, trabalhadores da indústria despertam aos poucos p<strong>ar</strong>a uma esp<strong>é</strong>cie de<br />

consciência de classe e começam a agir contra a aguda mis<strong>é</strong>ria e a opressão crônica<br />

em <strong>que</strong> vivem. Enquanto lemos isso, sentimo-<strong>no</strong>s pisando terre<strong>no</strong> famili<strong>ar</strong>; tais<br />

processos continuam a ocorrer à <strong>no</strong>ssa volta, e um s<strong>é</strong>culo de m<strong>ar</strong>xismo ajudou-<strong>no</strong>s a<br />

fix<strong>ar</strong> uma linguagem segundo a qual isso faz sentido.<br />

Continuando a 1er, por<strong>é</strong>m, se o fizermos com plena atenção, algo estranho começ<strong>ar</strong>á a<br />

acontecer. A prosa de M<strong>ar</strong>x subitamente se torna lumi<strong>no</strong>sa, incandescente; imagens<br />

brilhantes se sucedem e se desdobram em outras; somos <strong>ar</strong>rastados num ímpeto<br />

fogoso, numa intensidade ofegante. M<strong>ar</strong>x não está apenas descrevendo, mas<br />

evocando e dramatizando o andamento desesperado e o ritmo fren<strong>é</strong>tico <strong>que</strong> o<br />

capitalismo impõe a todas as facetas da vida moderna. Com isso, <strong>no</strong>s leva a sentir <strong>que</strong><br />

p<strong>ar</strong>ticipamos da ação, lançados na corrente, <strong>ar</strong>rastados, fora de controle, ao mesmo<br />

tempo confundidos e ameaçados pela impetuosa precipitação. Após algumas páginas<br />

disso, sentimo-<strong>no</strong>s excitados mas perplexos; sentimos <strong>que</strong> as sólidas formações sociais<br />

à <strong>no</strong>ssa volta se diluíram. No momento em <strong>que</strong> os proletários fazem enfim sua<br />

89

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!