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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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por necessidades reais diretas e intensas: sexo, dinheiro, amor; são essas as correntes<br />

involuntárias de intenção <strong>no</strong> <strong>ar</strong>; os aspectos fragmentados agora se resolvem em<br />

pessoas reais, na medida em <strong>que</strong> estas procuram avidamente outras p<strong>ar</strong>a satisfazerem<br />

suas necessidades. Por outro lado, a própria profundidade e a intensidade desses<br />

desejos distorcem as percepções <strong>que</strong> as pessoas têm umas das outras, bem como as<br />

apresentações de si mesmas. Tanto o eu como os outros são ampliados pela luz<br />

mágica, mas sua grandeza <strong>é</strong> tão evanescente quanto as sombras das p<strong>ar</strong>edes.<br />

At<strong>é</strong> agora, a visão de Gogol foi impetuosa e pa<strong>no</strong>râmica. Agora, con<strong>tudo</strong>, ele se centra<br />

nítida e penetrantemente em dois jovens cujas histórias está prestes a n<strong>ar</strong>r<strong>ar</strong>:<br />

Pishk<strong>ar</strong>ev, um <strong>ar</strong>tista, e Pirogov, um oficial. Enquanto esses cam<strong>ar</strong>adas diferentes<br />

passeiam pela Nevski, seus olhos são simultaneamente atraídos por duas jovens <strong>que</strong><br />

passam. Eles se sep<strong>ar</strong>am e correm em direções opostas, da Nevski p<strong>ar</strong>a as escuras<br />

ruas laterais, perseguindo as jovens dos respectivos sonhos. Na medida em <strong>que</strong> os<br />

segue, Gogol muda da pirotecnia surreal de sua introdução p<strong>ar</strong>a uma veia de coerência<br />

mais convencional, típica do realismo romântico do s<strong>é</strong>culo XIX, de Balzac, Dickens e<br />

Puchkin, orientada p<strong>ar</strong>a pessoas reais e suas vidas.<br />

O tenente Pirogov <strong>é</strong> uma grande criação cômica, um tal monumento de chistes<br />

grosseiros e vaidades — sexuais, nacionais, de classe — <strong>que</strong> seu <strong>no</strong>me se tor<strong>no</strong>u<br />

proverbial na Rússia. Seguindo a jovem <strong>que</strong> viu na Nevski, Pirogov vai d<strong>ar</strong> num bairro de<br />

<strong>ar</strong>tesãos alemães; a moça vem a ser a esposa de um trabalhador de metais suábio. Esse<br />

<strong>é</strong> o mundo dos ocidentais <strong>que</strong> produzem as mercadorias <strong>que</strong> a Nevski exibe e <strong>que</strong> a<br />

classe de oficiais russos consome feliz. Na verdade, a importância desses estrangeiros<br />

p<strong>ar</strong>a a eco<strong>no</strong>mia da Rússia e de Petersburgo testemunha a incapacidade e fra<strong>que</strong>za<br />

interna do país. Mas Pirogov nada sabe disso. Ele trata os estrangeiros como costuma<br />

trat<strong>ar</strong> os servos. No início, a indignação do m<strong>ar</strong>ido, Schiller, ante o flerte com a esposa o<br />

surpreende. Afinal, não <strong>é</strong> ele um oficial russo? Schiller e seu amigo, o sapateiro<br />

Hoffmann, não se mostram impressionados: dizem <strong>que</strong> eles próprios poderiam ter sido<br />

oficiais, caso houvessem decidido permanecer em seus países. Então Pirogov lhes faz<br />

uma encomenda: de um lado, isto serviria como pretexto p<strong>ar</strong>a retorn<strong>ar</strong>; ao mesmo<br />

tempo, ele p<strong>ar</strong>ece entender a encomenda como uma esp<strong>é</strong>cie de subor<strong>no</strong>, um incentivo<br />

p<strong>ar</strong>a o m<strong>ar</strong>ido não prest<strong>ar</strong> atenção ao flerte. Pirogov m<strong>ar</strong>ca um encontro com Frau<br />

Schiller; entretanto, quando ap<strong>ar</strong>ece, <strong>é</strong> surpreendido por Schiller e Hoffmann, <strong>que</strong> o<br />

agu<strong>ar</strong>dam e o atiram p<strong>ar</strong>a fora. O oficial fica estupefato:<br />

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