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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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transcendência <strong>é</strong> exigir e lut<strong>ar</strong> por verdadeira transcendência. Desistir da<br />

transcendência seria vestir um halo em tor<strong>no</strong> da própria estagnação e resignação e trair<br />

não apenas a M<strong>ar</strong>x mas a nós mesmos. Temos de lut<strong>ar</strong> pelo equilíbrio precário,<br />

dinâmico, <strong>que</strong> Antonio Gramsci, um dos maiores pensadores e líderes comunistas do<br />

116<br />

<strong>no</strong>sso s<strong>é</strong>culo, descreveu como “pessimismo do intelecto, otimismo da vontade”. 19<br />

CONCLUSÃO: A CULTURA E AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISMO<br />

Venho tentando definir neste ensaio um espaço p<strong>ar</strong>a o qual o pensamento de M<strong>ar</strong>x e a<br />

tradição modernista confluam. Antes de <strong>tudo</strong>, ambos constituem tentativas de evoc<strong>ar</strong> e<br />

apreender uma experiência peculi<strong>ar</strong>mente moderna. Ambos confrontam o âmbito da<br />

modernidade com emoções dísp<strong>ar</strong>es, temor respeitoso e exaltação impregnados de<br />

um senso de horror. Ambos vêem a vida moderna como crivada de impulsos e<br />

potencialidades contraditórias e ambos endossam uma visão de extremada ou ultra-<br />

modernidade — “os <strong>no</strong>vos homens rec<strong>é</strong>m-criados (...), uma invenção dos tempos<br />

moder<strong>no</strong>s, como o próprio maquinário”, segundo M<strong>ar</strong>x; “Il faut être absolument<br />

moderne”, segundo Rimbaud — como o caminho capaz de resolver essas contradições.<br />

Seguindo esse espírito de convergência, tentei ler M<strong>ar</strong>x como um escritor modernista,<br />

p<strong>ar</strong>a fazer aflor<strong>ar</strong> a vitalidade e a ri<strong>que</strong>za de sua linguagem, a profundidade e<br />

complexidade de suas imagens — roupas e nudez, v<strong>é</strong>us, halos, calor, frio — e p<strong>ar</strong>a<br />

mostr<strong>ar</strong>, aí, como <strong>é</strong> brilhante o desenvolvimento dos temas pelos quais o modernismo<br />

viria a se definir: a glória da energia e o dinamismo moder<strong>no</strong>s, a inclemência da<br />

desintegração e o niilismo moder<strong>no</strong>s, a estranha intimidade entre eles; a sensação de<br />

est<strong>ar</strong> aprisionado numa vertigem em <strong>que</strong> todos os fatos e valores sofrem<br />

sucessivamente um processo de em<strong>ar</strong>anhamento, explosão, decomposição,<br />

recombinação; uma fundamental incerteza sobre o <strong>que</strong> <strong>é</strong> básico, o <strong>que</strong> <strong>é</strong> válido, at<strong>é</strong><br />

mesmo o <strong>que</strong> <strong>é</strong> real; a combustão das esperanças mais radicais, em meio à sua radical<br />

negação.<br />

Ao mesmo tempo, procurei ler o modernismo segundo uma perspectiva m<strong>ar</strong>xista, p<strong>ar</strong>a<br />

sugerir como suas energias, intuições e ansiedades mais c<strong>ar</strong>acterísticas brotam dos<br />

movimentos e pressões da moderna vida econômica: de sua incansável e insaciável<br />

demanda de crescimento e progresso; sua expansão dos desejos huma<strong>no</strong>s p<strong>ar</strong>a al<strong>é</strong>m<br />

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