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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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A diferença está <strong>no</strong> espaço urba<strong>no</strong> onde acontece <strong>no</strong>ssa cena: “No fim da t<strong>ar</strong>de você<br />

quis sent<strong>ar</strong>-se em frente ao <strong>no</strong>vo caf<strong>é</strong>, na esquina do <strong>no</strong>vo bulev<strong>ar</strong>, ainda atulhado de<br />

detritos, mas já mostrando seus infinitos esplendores”. A diferença, em uma palavra, <strong>é</strong> o<br />

boulev<strong>ar</strong>d: o <strong>no</strong>vo bulev<strong>ar</strong> p<strong>ar</strong>isiense foi a mais espetacul<strong>ar</strong> i<strong>no</strong>vação urbana do s<strong>é</strong>culo<br />

XIX, decisivo ponto de p<strong>ar</strong>tida p<strong>ar</strong>a a modernização da cidade tradicional.<br />

No fim dos a<strong>no</strong>s de 1850 e ao longo de toda a d<strong>é</strong>cada seguinte, enquanto Baudelaire<br />

trabalhava em Spleen de P<strong>ar</strong>is, Georges Eugène Haussmann, prefeito de P<strong>ar</strong>is e<br />

circunvizinhanças, investido <strong>no</strong> c<strong>ar</strong>go por um mandato imperial de Napoleão III, estava<br />

implantando uma vasta rede de bulev<strong>ar</strong>es <strong>no</strong> coração da velha cidade medieval. 21<br />

Napoleão e Haussmann conceberam as <strong>no</strong>vas vias e <strong>ar</strong>t<strong>é</strong>rias como um sis-<br />

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tema circulatório urba<strong>no</strong>. Tais imagens, lug<strong>ar</strong>-comum hoje, eram altamente<br />

revolucionárias p<strong>ar</strong>a a vida urbana do s<strong>é</strong>culo XIX. Os <strong>no</strong>vos bulev<strong>ar</strong>es permitiram ao<br />

tráfico fluir pelo centro da cidade e mover-se em linha reta, de um extremo a outro —<br />

um empreendimento quixotesco e virtualmente inimaginável, at<strong>é</strong> então. Al<strong>é</strong>m disso, eles<br />

elimin<strong>ar</strong>iam as habitações miseráveis e abririam “espaços livres” em meio a camadas<br />

de escuridão e apertado congestionamento. Estimul<strong>ar</strong>iam uma tremenda expansão de<br />

negócios locais, em todos os níveis, e ajud<strong>ar</strong>iam a custe<strong>ar</strong> imensas demolições<br />

municipais, indenizações e <strong>no</strong>vas construções. Pacific<strong>ar</strong>iam as massas, empregando<br />

dezenas de milh<strong>ar</strong>es de trabalhadores — o <strong>que</strong> às vezes chegou a um qu<strong>ar</strong>to da mão-<br />

de-obra disponível na cidade — em obras públicas de longo prazo, as quais por sua vez<br />

ger<strong>ar</strong>iam milh<strong>ar</strong>es de <strong>no</strong>vos empregos <strong>no</strong> setor privado. Por fim, cri<strong>ar</strong>iam longos e<br />

l<strong>ar</strong>gos corredores atrav<strong>é</strong>s dos quais as tropas de <strong>ar</strong>tilh<strong>ar</strong>ia poderiam mover-se<br />

eficazmente contra futuras b<strong>ar</strong>ricadas e insurreições popul<strong>ar</strong>es.<br />

Os bulev<strong>ar</strong>es representam apenas uma p<strong>ar</strong>te do amplo sistema de planejamento<br />

urba<strong>no</strong>, <strong>que</strong> incluía mercados centrais, pontes, esgotos, fornecimento de água, a<br />

Ópera e outros monumentos culturais, uma grande rede de p<strong>ar</strong><strong>que</strong>s. “Diga-se, em<br />

tributo ao eter<strong>no</strong> cr<strong>é</strong>dito do b<strong>ar</strong>ão Haussmann” — assim se expressou Robert Moses,<br />

seu mais ilustre e <strong>no</strong>tório sucessor, em 1942 —, “<strong>que</strong> ele resolveu de uma vez por todas,<br />

de maneira firme e segura, o problema da modernização urbana em l<strong>ar</strong>ga escala.” O<br />

empreendimento pôs abaixo centenas de edifícios, deslocou milh<strong>ar</strong>es e milh<strong>ar</strong>es de<br />

pessoas, destruiu bairros inteiros <strong>que</strong> aí tinham existido por s<strong>é</strong>culos. Mas fran<strong>que</strong>ou<br />

toda a cidade, pela primeira vez em sua história, à totalidade de seus habitantes. Agora,<br />

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