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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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ortodoxos, <strong>que</strong> evitam o pensamento m<strong>ar</strong>xista com receio de <strong>que</strong> este possa despi-los<br />

do seu halo, esses precisam entender <strong>que</strong> poderiam receber em troca algo ainda<br />

melhor: uma aprimorada capacidade de imagin<strong>ar</strong> e express<strong>ar</strong> as infinitamente ricas,<br />

complexas e irônicas relações entre eles mesmos e a “moderna sociedade burguesa”,<br />

<strong>que</strong> eles tentam neg<strong>ar</strong> ou desafi<strong>ar</strong>. Uma fusão de M<strong>ar</strong>x com o modernismo poderia<br />

derreter o demasiado <strong>sólido</strong> corpo do m<strong>ar</strong>xismo — ou pelo me<strong>no</strong>s a<strong>que</strong>cê-lo e<br />

descongelá-lo —; ao mesmo tempo, d<strong>ar</strong>ia à <strong>ar</strong>te e ao pensamento modernistas uma<br />

<strong>no</strong>va solidez e investiria suas criações de in-<br />

118<br />

suspeita ressonância e profundidade. Mostr<strong>ar</strong>ia <strong>que</strong> o modernismo <strong>é</strong> o realismo dos<br />

<strong>no</strong>ssos tempos.<br />

Neste capítulo conclusivo, pretendo <strong>que</strong> as id<strong>é</strong>ias at<strong>é</strong> aqui expostas se defrontem com<br />

alguns dos debates contemporâneos a propósito de M<strong>ar</strong>x, modernismo e modernização.<br />

Começ<strong>ar</strong>ei por consider<strong>ar</strong> as acusações conservadoras <strong>que</strong>, <strong>no</strong> fim dos a<strong>no</strong>s 60,<br />

atingiram o modernismo e result<strong>ar</strong>am <strong>no</strong> clima reacionário da última d<strong>é</strong>cada. Segundo<br />

Daniel Bell, o mais s<strong>é</strong>rio desses polemistas, “o modernismo tem sido um sedutor”, <strong>que</strong><br />

induz homens e mulheres contemporâneos (e at<strong>é</strong> crianças) a desert<strong>ar</strong> de suas posições<br />

e deveres morais, políticos e econômicos. O capitalismo, de acordo com pensadores<br />

como Bell, <strong>é</strong> totalmente i<strong>no</strong>cente nesse caso: <strong>é</strong> uma esp<strong>é</strong>cie de Ch<strong>ar</strong>les Bov<strong>ar</strong>y, nada<br />

emocionante mas decente e zeloso, <strong>que</strong> trabalha duro p<strong>ar</strong>a satisfazer os desejos<br />

insaciáveis de sua tresloucada esposa e p<strong>ar</strong>a pag<strong>ar</strong> dívidas insuportáveis. Esse retrato<br />

da i<strong>no</strong>cência capitalista tem um refinado ch<strong>ar</strong>me pastoral; con<strong>tudo</strong>, nenhum capitalista<br />

ous<strong>ar</strong>ia tomá-lo a s<strong>é</strong>rio, caso pretendesse sobreviver, mesmo <strong>que</strong> só por uma semana,<br />

<strong>no</strong> mundo real erigido pelo capitalismo. (Por outro lado, os capitalistas decerto<br />

desfrutam dessa imagem, como um feliz achado de relações públicas, por<strong>é</strong>m riem o<br />

tempo todo, em off.) Ainda assim, <strong>é</strong> de admir<strong>ar</strong> a engenhosidade com <strong>que</strong> Bell se<br />

aproveita de uma das mais persistentes ortodoxias modernistas — a auto<strong>no</strong>mia da<br />

cultura, a superioridade do <strong>ar</strong>tista em relação a todas as <strong>no</strong>rmas e necessidades <strong>que</strong><br />

oprimem os mortais comuns em seu redor — p<strong>ar</strong>a voltá-la contra o próprio<br />

modernismo. 21<br />

Mas o <strong>que</strong> uns e outros masc<strong>ar</strong>am aqui, tanto modernistas como antimodernistas, <strong>é</strong> o<br />

fato de <strong>que</strong> esses movimentos espirituais e culturais, pelo seu explosivo poder, são<br />

apenas bolhas na superfície de um imenso caldeirão social e econômico, <strong>que</strong> vem<br />

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