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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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movimentos de pessoas — p<strong>ar</strong>a cidades, p<strong>ar</strong>a fronteiras, p<strong>ar</strong>a <strong>no</strong>vas terras —,<br />

<strong>que</strong> a burguesia algumas vezes inspirou, algumas vezes forçou com brutalidade,<br />

algumas vezes subsidiou e sempre explorou em seu proveito. M<strong>ar</strong>x, num<br />

p<strong>ar</strong>ágrafo comovente e evocativo, transmite o ritmo e o drama do ativismo<br />

burguês:<br />

91<br />

A burguesia, em seu reinado de apenas um s<strong>é</strong>culo, gerou um poder de<br />

produção mais massivo e colossal do <strong>que</strong> todas as gerações anteriores<br />

reunidas. Submissão das forças da natureza ao homem, maquinado,<br />

aplicação da química à agricultura e à indústria, navegação a vapor,<br />

ferrovias, telegrafia el<strong>é</strong>trica, esvaziamento de continentes inteiros p<strong>ar</strong>a o<br />

cultivo, canalização de rios, populações inteiras expulsas de seu habitat<br />

— <strong>que</strong> s<strong>é</strong>culo, antes, pôde se<strong>que</strong>r sonh<strong>ar</strong> <strong>que</strong> esse poder produtivo<br />

dormia <strong>no</strong> seio do trabalho social? (p. 473-75)<br />

M<strong>ar</strong>x não <strong>é</strong> o primeiro, nem o último, a celebr<strong>ar</strong> os triunfos da moderna tec<strong>no</strong>logia<br />

burguesa e sua organização social. Mas sua louvação <strong>é</strong> peculi<strong>ar</strong>, tanto <strong>no</strong> <strong>que</strong> enfatiza<br />

como <strong>no</strong> <strong>que</strong> omite. Embora se apresente como um materialista, M<strong>ar</strong>x não está<br />

primordialmente interessado nas coisas criadas pela burguesia. O <strong>que</strong> lhe interessa são<br />

os processos, os poderes, as expressões de vida humana e energia: homens <strong>no</strong><br />

trabalho, movendo-se, cultivando, comunicando-se, organizando e reorganizando a<br />

natureza e a si mesmos — os <strong>no</strong>vos e interminavelmente re<strong>no</strong>vados meios de atividade<br />

<strong>que</strong> a burguesia traz à luz. M<strong>ar</strong>x não se det<strong>é</strong>m demasiado em invenções e i<strong>no</strong>vações<br />

p<strong>ar</strong>ticul<strong>ar</strong>es, por si mesmas (na tradição <strong>que</strong> vai de Saint-Simon a McLuhan); o <strong>que</strong> o<br />

atrai são os processos ativos e generativos atrav<strong>é</strong>s dos quais uma coisa conduz a outra,<br />

sonhos se metamorfoseiam em projetos, fantasias em balanço, as id<strong>é</strong>ias mais exóticas<br />

e extravagantes se transformam continuamente em realidades (“populações inteiras<br />

expulsas de seu habitat”), ativando e nutrindo <strong>no</strong>vas formas de vida e ação.<br />

A ironia do ativismo burguês, como o vê M<strong>ar</strong>x, está em <strong>que</strong> a burguesia <strong>é</strong> obrigada a se<br />

fech<strong>ar</strong> p<strong>ar</strong>a as suas mais ricas possibilidades, <strong>que</strong> só chegam a ser vislumbradas por<br />

a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> rompem com o seu poder. Apes<strong>ar</strong> de todos os m<strong>ar</strong>avilhosos meios de<br />

atividade desencadeados pela burguesia, a única atividade <strong>que</strong> de fato conta, p<strong>ar</strong>a<br />

seus membros, <strong>é</strong> fazer dinheiro, acumul<strong>ar</strong> capital, <strong>ar</strong>mazen<strong>ar</strong> excedentes; todos os<br />

seus empreendimentos são apenas meios p<strong>ar</strong>a atingir esse fim, não têm em si senão um<br />

interesse transitório e intermediário. Os poderes e processos ativos, <strong>que</strong> tanto significam<br />

p<strong>ar</strong>a M<strong>ar</strong>x, não passam de meros incidentes e subprodutos p<strong>ar</strong>a os seus agentes. Não<br />

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