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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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da vida moderna cotidiana, o homem moder<strong>no</strong> de Le Corbusier f<strong>ar</strong>á um movimento<br />

gigantesco, <strong>que</strong> torn<strong>ar</strong>á desnecessários os movimentos seguintes, um grande salto <strong>que</strong><br />

será o último. O homem na rua se incorpor<strong>ar</strong>á ao <strong>no</strong>vo poder tornando-se o homem <strong>no</strong><br />

c<strong>ar</strong>ro.<br />

A perspectiva do <strong>no</strong>vo homem <strong>no</strong> c<strong>ar</strong>ro ger<strong>ar</strong>á os p<strong>ar</strong>adigmas do planejamento e<br />

design urba<strong>no</strong>s do s<strong>é</strong>culo XX. O <strong>no</strong>vo homem, diz Le Corbusier, precisa de “outro tipo<br />

de rua”, <strong>que</strong> será “uma máquina p<strong>ar</strong>a o tráfego”, ou, p<strong>ar</strong>a v<strong>ar</strong>i<strong>ar</strong> a metáfora básica,<br />

“uma fábrica p<strong>ar</strong>a produzir tráfego”. Uma rua verdadeiramente moderna precisa ser<br />

“bem equipada como uma fábrica”. 28 Nessa rua, como na fábrica moderna, o modelo<br />

mais bem equipado <strong>é</strong> o mais altamente automatizado: nada de pessoas, exceto as <strong>que</strong><br />

operam as máquinas; nada de pedestres desprotegidos e desmotorizados p<strong>ar</strong>a ret<strong>ar</strong>d<strong>ar</strong> o<br />

fluxo. “Caf<strong>é</strong>s e pontos de recreação deix<strong>ar</strong>ão de ser os fungos <strong>que</strong> sugam a<br />

pavimentação de P<strong>ar</strong>is”. 29 Na cidade do futuro, o macadame pertencerá somente ao<br />

tráfego.<br />

A p<strong>ar</strong>tir do relance mágico de Le Corbusier <strong>no</strong>s Champs Elys<strong>é</strong>es, nasce a visão de um<br />

<strong>no</strong>vo mundo: um mundo inteiramente integrado de torres altíssimas, circundadas de<br />

vastas extensões de grama e espaço aberto — a torre <strong>no</strong> p<strong>ar</strong><strong>que</strong> —, ligado por super-<br />

rodovias a<strong>é</strong>reas, servido por g<strong>ar</strong>agens e shopping-centers subterrâneos. Essa visão tem<br />

um <strong>ar</strong>gumento político muito cl<strong>ar</strong>o, expresso nas palavras finais de Tow<strong>ar</strong>ds a New<br />

Architecture: “Arquitetura ou Revolução. A Revolução pode ser evitada”.<br />

161<br />

As implicações políticas não foram inteiramente apreendidas <strong>no</strong> momento — e não se<br />

sabe se Le Corbusier estava de todo atento a elas —, mas nós agora temos<br />

condições de compreendê-las. Tese, tese defendida pela população urbana, a p<strong>ar</strong>tir de<br />

1789, ao longo de todo o s<strong>é</strong>culo XIX e <strong>no</strong>s grandes levantes revolucionários do final da<br />

Primeira Guerra: as ruas pertencem ao povo. Antítese, e eis a grande contribuição de<br />

Le Corbusier: nada de ruas, nada de Povo. Nas ruas da cidade pós-haussmanniana, as<br />

contradições sociais e psíquicas fundamentais da vida moderna continuam atuantes,<br />

em permanente ameaça de erupção. Con<strong>tudo</strong>, se essas ruas puderem simplesmente<br />

ser riscadas do mapa — Le Corbusier o disse, bastante cl<strong>ar</strong>o, em 1929: “Precisamos<br />

mat<strong>ar</strong> a rua!’’ x —, talvez essas contradições nunca venham a <strong>no</strong>s molest<strong>ar</strong>. Assim, a<br />

<strong>ar</strong>quitetura e o planejamento modernistas cri<strong>ar</strong>am uma versão modernizada da<br />

pastoral: um mundo espacialmente e socialmente segmentado — pessoas aqui,<br />

165

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