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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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Foi com esta m<strong>ar</strong>ca — com sua f<strong>é</strong> fervorosa em <strong>que</strong> a tec<strong>no</strong>logia e a organização social<br />

modernas podiam cri<strong>ar</strong> um mundo sem cinzas — <strong>que</strong> o modernismo da d<strong>é</strong>cada de 30<br />

chegou ao fim.<br />

Onde foi <strong>que</strong> as coisas deram errado? Como as modernas visões dos a<strong>no</strong>s 30<br />

torn<strong>ar</strong>am-se am<strong>ar</strong>gas <strong>no</strong> processo de sua realização? O tema exigiria um tempo e um<br />

espaço mais amplos do <strong>que</strong> dispomos aqui e agora p<strong>ar</strong>a ser adequadamente<br />

desenvolvido. Mas podemos repetir essas <strong>que</strong>stões de uma forma mais limitada e mais<br />

adequada à órbita deste livro: como foi <strong>que</strong> Moses — e Nova Ior<strong>que</strong> e os Estados<br />

Unidos — cumpriram o percurso da destruição do Vale das Cinzas, em 1939, at<strong>é</strong> o<br />

desenvolvimento de modernas terras de ningu<strong>é</strong>m ainda mais terríveis e intratáveis,<br />

apenas uma geração depois e a alguns quilômetros de distância? É necessário<br />

desvend<strong>ar</strong> as sombras a p<strong>ar</strong>tir das próprias visões lumi<strong>no</strong>sas da d<strong>é</strong>cada de 30.<br />

O lado negro sempre esteve ali, <strong>no</strong> próprio Moses. Eis o testemunho de Frances<br />

Perkins, a primeira mulher <strong>no</strong>rte-americana a ocup<strong>ar</strong> o Minist<strong>é</strong>rio do Trabalho, <strong>no</strong><br />

gover<strong>no</strong>. Roosevelt, a qual trabalhou em estreito contato com Moses por longos a<strong>no</strong>s e<br />

o admirou durante toda a vida. Ela recorda o sincero amor <strong>que</strong> o povo dedicava a<br />

Moses <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s do New Deal, quando ele construía p<strong>ar</strong><strong>que</strong>s de diversões <strong>no</strong><br />

H<strong>ar</strong>lem e na p<strong>ar</strong>te baixa do East Side; entretanto, constatou com pes<strong>ar</strong> <strong>que</strong> Moses,<br />

por seu lado, “não amava o povo”.<br />

Isso costumava choc<strong>ar</strong>-me, pois ele estava construindo todas a<strong>que</strong>las coisas p<strong>ar</strong>a o<br />

bem-est<strong>ar</strong> do povo. (...) P<strong>ar</strong>a ele, eram pessoas piolhentas e sujas, <strong>que</strong> atiravam<br />

g<strong>ar</strong>rafas por todas as p<strong>ar</strong>tes em Jones Beach. “Eu os pego! Vou lhes ensin<strong>ar</strong>!” Ele<br />

amava o povo, mas não enquanto pessoas. O povo era p<strong>ar</strong>a ele ...uma grande massa<br />

amorfa, <strong>que</strong> precisa ser lavada, tom<strong>ar</strong> um pouco de <strong>ar</strong> e dispor de diversões, mas não<br />

por razões pessoais — apenas p<strong>ar</strong>a fazer dele um povo melhor. 6<br />

288<br />

“Ele ama o povo, mas não como pessoas”: Dostoievski já denunci<strong>ar</strong>a repetidas vezes<br />

<strong>que</strong> a combinação do amor pela “humanidade” com o ódio pelas pessoas reais era um<br />

dos riscos fatais da política moderna. Durante o período do New Deal, Moses procurou<br />

manter um precário equilíbrio entre os pólos e trazer felicidade real não apenas ao<br />

“povo” <strong>que</strong> ele amava como tamb<strong>é</strong>m às pessoas <strong>que</strong> abominava. Mas ningu<strong>é</strong>m podia<br />

manter esse ato de equilíbrio por muito tempo. “Eu os pego! Vou lhes ensin<strong>ar</strong>!” Aí, ouve-<br />

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