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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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um mundo em <strong>que</strong> “o bom, o mau, o belo, o feio, a verdade, a virtude, têm uma<br />

existência apenas local e limitada”. Uma infinidade de <strong>no</strong>vas experiências se<br />

oferecem, mas <strong>que</strong>m <strong>que</strong>r <strong>que</strong> pretenda desfrutá-las “precisa ser mais flexível<br />

<strong>que</strong> Alcibíades, pronto a mud<strong>ar</strong> seus princípios diante da plat<strong>é</strong>ia, a fim de<br />

reajust<strong>ar</strong> seu espírito a cada passo”. Após alguns meses nesse meio,<br />

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eu começo a sentir a embriaguez a <strong>que</strong> essa vida agitada e tumultuosa<br />

me condena. Com tal quantidade de objetos desfilando diante de meus<br />

olhos, eu vou ficando aturdido. De todas as coisas <strong>que</strong> me atraem,<br />

nenhuma toca o meu coração, embora todas juntas perturbem meus<br />

sentimentos, de modo a fazer <strong>que</strong> eu es<strong>que</strong>ça o <strong>que</strong> sou e qual meu lug<strong>ar</strong>.<br />

Ele reafirma sua intenção de manter-se fiel ao primeiro amor, não obstante<br />

receie, como ele mesmo o diz: “Eu não sei, a cada dia, o <strong>que</strong> vou am<strong>ar</strong> <strong>no</strong> dia<br />

seguinte”. Sonha desesperadamente com algo <strong>sólido</strong> a <strong>que</strong> se apeg<strong>ar</strong>, mas “eu<br />

vejo apenas fantasmas <strong>que</strong> rondam meus olhos e desap<strong>ar</strong>ecem assim <strong>que</strong> os<br />

tento ag<strong>ar</strong>r<strong>ar</strong>”. 2 Essa atmosfera — de agitação e turbulência, aturdimento<br />

psíquico e embriaguez, expansão das possibilidades de experiência e destruição<br />

das b<strong>ar</strong>reiras morais e dos compromissos pessoais, auto-expansão e<br />

autodesordem, fantasmas na rua e na alma — <strong>é</strong> a atmosfera <strong>que</strong> dá origem à<br />

sensibilidade moderna.<br />

Se <strong>no</strong>s adiant<strong>ar</strong>mos cerca de um s<strong>é</strong>culo, p<strong>ar</strong>a tent<strong>ar</strong> identific<strong>ar</strong> os timbres e ritmos<br />

peculi<strong>ar</strong>es da modernidade do s<strong>é</strong>culo XIX, a primeira coisa <strong>que</strong> observ<strong>ar</strong>emos<br />

será a <strong>no</strong>va paisagem, altamente desenvolvida, diferenciada e dinâmica, na qual<br />

tem lug<strong>ar</strong> a experiência moderna. Trata-se de uma paisagem de engenhos a<br />

vapor, fábricas automatizadas, ferrovias, amplas <strong>no</strong>vas zonas industriais;<br />

prolíficas cidades <strong>que</strong> cresceram do dia p<strong>ar</strong>a a <strong>no</strong>ite, quase sempre com<br />

aterradoras conseqüências p<strong>ar</strong>a o ser huma<strong>no</strong>; jornais diários, tel<strong>é</strong>grafos,<br />

telefones e outros instrumentos de media, <strong>que</strong> se comunicam em escada cada<br />

vez maior; Estados nacionais cada vez mais fortes e conglomerados<br />

multinacionais de capital; movimentos sociais de massa, <strong>que</strong> lutam contra essas<br />

modernizações de cima p<strong>ar</strong>a baixo, contando só com seus próprios meios de<br />

modernização de baixo p<strong>ar</strong>a cima; um mercado mundial <strong>que</strong> a <strong>tudo</strong> ab<strong>ar</strong>ca, em<br />

crescente expansão, capaz de um est<strong>ar</strong>recedor desperdício e devastação, capaz<br />

de <strong>tudo</strong> exceto solidez e estabilidade. Todos os grandes modernistas do s<strong>é</strong>culo<br />

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