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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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p<strong>ar</strong>tir de uma terra desolada e improdutiva, onde seres huma<strong>no</strong>s jamais sonh<strong>ar</strong>am<br />

viver. Enquanto desdobra seus pla<strong>no</strong>s, Fausto percebe <strong>que</strong> o demônio está atordoado<br />

e exausto. Ao me<strong>no</strong>s uma vez ele não tem nada a dizer. Tempos atrás, Mefisto<br />

mencion<strong>ar</strong>a a visão de um cavaleiro veloz como p<strong>ar</strong>adigma do homem <strong>que</strong> se move<br />

pelos caminhos do mundo. Agora, con<strong>tudo</strong>, seu protegido o ultrapassou: Fausto<br />

pretende mover o próprio mundo.<br />

De repente <strong>no</strong>s encontramos diante de um ponto <strong>no</strong>dal na história do moder<strong>no</strong><br />

autoconhecimento. Assistimos ao nascimento de uma <strong>no</strong>va divisão social do trabalho,<br />

uma <strong>no</strong>va vocação, uma <strong>no</strong>va relação entre id<strong>é</strong>ias e vida prática. Dois movimentos<br />

históricos radicalmente diferentes convergem aí e começam a fluir juntos. Um grande<br />

ideal do espírito e da cultura se transforma em emergente realidade material e social. A<br />

romântica procura de autodesenvolvimento, <strong>que</strong> levou Fausto tão longe, desenvolve-se a<br />

si própria, agora, atrav<strong>é</strong>s de uma <strong>no</strong>va forma de atividade, atrav<strong>é</strong>s do esforço titânico do<br />

desenvolvimento econômico. Fausto está se transformando em uma <strong>no</strong>va esp<strong>é</strong>cie de<br />

homem, p<strong>ar</strong>a adapt<strong>ar</strong>-se a uma <strong>no</strong>va situação. Em seu <strong>no</strong>vo trabalho, irá experiment<strong>ar</strong><br />

algumas das mais criativas e algumas das mais destrutivas potencialidades da vida<br />

moderna; ele será o consumado destruidor e criador, a sombria e profundamente<br />

ambígua figura <strong>que</strong> <strong>no</strong>ssa <strong>é</strong>poca virá a cham<strong>ar</strong> “o fomentador”.<br />

Goethe sabe <strong>que</strong> a <strong>que</strong>stão do desenvolvimento <strong>é</strong> necess<strong>ar</strong>iamente uma <strong>que</strong>stão<br />

política. Os projetos de Fausto vão exigir não apenas um imenso capital, mas o controle<br />

sobre vastas extensões territoriais e um grande número de pessoas. Onde ele pode<br />

conseguir esse poder? A solução está <strong>no</strong> ato IV. Goethe p<strong>ar</strong>ece pouco à vontade nesse<br />

interlúdio político: seus personagens aí se tornam surpreendentemente pálidos e<br />

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flácidos, e sua linguagem perde muito da força e da intensidade habituais. Ele<br />

não se identifica com nenhuma das opções políticas existentes e deseja pass<strong>ar</strong><br />

depressa por essa p<strong>ar</strong>te. As alternativas, tal como estão definidas <strong>no</strong> ato IV, são:<br />

de um lado, um fragmentário imp<strong>é</strong>rio multinacional <strong>que</strong> vem da Idade M<strong>é</strong>dia,<br />

dirigido por um imperador <strong>que</strong> <strong>é</strong> simpático, mas venal e inteiramente inepto; de<br />

outro lado, desafiando-o, uma gangue de pseudo-revolucionários, atraídos<br />

apenas pelo poder e a pilhagem, e respaldados pela Igreja, <strong>que</strong> Goethe vê como<br />

a força mais voraz e mais cínica de todas. (A id<strong>é</strong>ia da Igreja como vangu<strong>ar</strong>da<br />

revolucionária sempre p<strong>ar</strong>eceu forçada a muitos leitores, por<strong>é</strong>m os eventos<br />

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