26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

221<br />

lug<strong>ar</strong> pe<strong>que</strong><strong>no</strong> <strong>no</strong> vasto espaço público da colunata. Estão agitados e a ponto de se<br />

dispers<strong>ar</strong> quando um jovem intelectual, de <strong>no</strong>me Georgi Plekha<strong>no</strong>v, decide aproveit<strong>ar</strong> o<br />

dia: sai do meio da multidão, faz um discurso curto e inflamado <strong>que</strong> conclui com “Salve<br />

a revolução social!” e desfralda uma bandeira onde se lê Zemlia i Volia, “Terra e<br />

Liberdade”. Então — a coisa toda não dura mais <strong>que</strong> alguns minutos — a polícia<br />

invade a praça, ajudada por um populacho recrutado às pressas na Nevski. Eles foram<br />

pegos de surpresa e respondem com brutalidade hist<strong>é</strong>rica; maltratam todos em <strong>que</strong>m<br />

conseguem pôr as mãos, inclusive muitas pessoas <strong>que</strong> nada têm a ver com a<br />

demonstração. Dezenas são presas ao acaso, embora os principais organizadores<br />

escapem em meio ao caos e à confusão. Muitos da<strong>que</strong>les <strong>que</strong> foram presos são<br />

torturados, e alguns enlou<strong>que</strong>cem devido à tortura; outros serão banidos p<strong>ar</strong>a a Sib<strong>é</strong>ria<br />

e jamais retorn<strong>ar</strong>ão. Mesmo assim, na <strong>no</strong>ite de 4 de dezembro e na manhã seguinte,<br />

<strong>no</strong>s sótãos dos estudantes e <strong>no</strong>s b<strong>ar</strong>racos dos operários — e nas celas da fortaleza<br />

Pedro-Paulo —, um <strong>no</strong>vo espírito de alegria e promessa enche o <strong>ar</strong>.<br />

Por <strong>que</strong> toda essa excitação? Muitos críticos liberais e alguns radicais vêem a<br />

demonstração como um fracasso: uma pe<strong>que</strong>na multidão perdida num grande espaço<br />

público, quase tempo nenhum p<strong>ar</strong>a proclam<strong>ar</strong> a mensagem revolucionária, grande<br />

sofrimento nas mãos da polícia e do populacho. Khazov, um dos p<strong>ar</strong>ticipantes, escreve<br />

um panfleto em janeiro de 1877, pouco antes de sua prisão (ele morrerá na Sib<strong>é</strong>ria em<br />

1881), <strong>que</strong> tenta explic<strong>ar</strong> a importância do evento. Nos últimos vinte a<strong>no</strong>s, diz Khazov,<br />

desde a morte de Nicolau, os liberais russos têm clamado por liberdade de expressão<br />

e de reunião; con<strong>tudo</strong>, nunca foram capazes de se unir p<strong>ar</strong>a realmente fal<strong>ar</strong> e se<br />

organiz<strong>ar</strong>. “Os liberais russos eram bastante cultos. Sabiam <strong>que</strong> a liberdade tinha sido<br />

conquistada (ênfase de Khazov) <strong>no</strong> Ocidente. Mas, obviamente, não se deve aplic<strong>ar</strong><br />

essa ênfase à Rússia.” Era precisamente essa id<strong>é</strong>ia liberal <strong>que</strong> os intelectuais e<br />

trabalhadores lutavam por concretiz<strong>ar</strong> na praça Kazan. Uma forma dúbia de conquista,<br />

podem dizer os críticos, <strong>no</strong> máximo quixotesca. Talvez seja assim, concorda Khazov;<br />

mas, nas condições russas, a única alternativa p<strong>ar</strong>a a fala e ação quixotesca <strong>é</strong> a<br />

ausência absoluta de fala e ação. “A Rússia <strong>é</strong> conduzida à liberdade política não por<br />

liberais, mas por sonhadores <strong>que</strong> organizam demonstrações infantis e ridículas, por<br />

homens <strong>que</strong> ousam <strong>que</strong>br<strong>ar</strong> a lei, <strong>que</strong> apanham, são condenados e insultados.” Na<br />

verdade, <strong>ar</strong>gumenta Khazov, essa “demonstração infantil e ridícula” significa uma <strong>no</strong>va<br />

231

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!