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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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espanhóis, mas a vibração e a afabilidade (os velhos a tom<strong>ar</strong> sol, as mulheres com<br />

sacolas de compra, os meni<strong>no</strong>s jogando bola na rua) trazem uma lembrança tão forte<br />

de casa <strong>que</strong> <strong>é</strong> fácil se sentir como se você nunca tivesse se ausentado.<br />

Muitos desses qu<strong>ar</strong>teirões são de tal modo confortavelmente comuns <strong>que</strong> quase<br />

podemos sentir <strong>que</strong> <strong>no</strong>s fundimos a eles, <strong>que</strong> algu<strong>é</strong>m <strong>no</strong>s acalenta o so<strong>no</strong> — at<strong>é</strong> <strong>que</strong><br />

viramos a esquina e todo o pesadelo de devastação (um qu<strong>ar</strong>teirão de detritos<br />

c<strong>ar</strong>bonizados, uma rua forrada de cascalho e cacos de vidro, onde não entra ningu<strong>é</strong>m),<br />

surge a <strong>no</strong>ssa frente e <strong>no</strong>s desperta às sacudidas. Só então podemos começ<strong>ar</strong> a<br />

compreender o <strong>que</strong> vimos na rua anterior. Foi necessário o esforço mais extraordinário<br />

p<strong>ar</strong>a resgat<strong>ar</strong> da morte essas ruas comuns, p<strong>ar</strong>a inici<strong>ar</strong> a vida cotidiana a p<strong>ar</strong>tir do nada.<br />

Esse labor coletivo deriva de uma combinação de recursos governamentais e trabalho e<br />

engenho popul<strong>ar</strong>es — “equilíbrio sofrido”, como o de<strong>no</strong>minam. 20 Trata-se de uma<br />

empresa <strong>ar</strong>riscada e precária — podemos sentir os riscos quando vemos o horror logo<br />

depois da esquina — <strong>que</strong> exige visão, energia e coragem fáusticas p<strong>ar</strong>a ser levada a<br />

cabo. São essas as pessoas da <strong>no</strong>va cidade de Fausto, <strong>que</strong> sabem ser preciso ganh<strong>ar</strong><br />

a vida e conquist<strong>ar</strong> a liberdade a cada <strong>no</strong>vo dia.<br />

A <strong>ar</strong>te moderna p<strong>ar</strong>ticipa ativamente nessa obra de re<strong>no</strong>vação. Em meio às aprazíveis<br />

ruas ressuscitadas podemos encontr<strong>ar</strong> uma e<strong>no</strong>rme escultura em aço <strong>que</strong> se ergue<br />

vários and<strong>ar</strong>es em direção ao c<strong>é</strong>u. Ela sugere as formas de duas palmeiras <strong>que</strong>, de<br />

modo expressionista, descansam uma na outra, compondo um <strong>ar</strong>co de pórtico. Trata-se<br />

da obra de Rafael Ferrer, “Sol de Porto Rico”, a árvore mais recente da floresta de<br />

símbolos <strong>no</strong>va-iorquina. O <strong>ar</strong>co <strong>no</strong>s conduz a uma rede de espaços aj<strong>ar</strong>dinados, o<br />

J<strong>ar</strong>dim Comunitário de Fox Street. É uma peça ao mesmo tempo imponente e<br />

divertida; recuando um pouco podemos admir<strong>ar</strong> a sua fusão calderiana de formas<br />

maciças e curvas sensuais. Mas a obra de Ferrer ganha ressonância e profundidade<br />

especiais a p<strong>ar</strong>tir de sua relação com o espaço onde se localiza. Nesse bairro<br />

basicamente porto-ri<strong>que</strong>nho e esmagadoramente c<strong>ar</strong>ibenho, ela evoca um p<strong>ar</strong>aíso<br />

tropical perdido. Manufaturada com mat<strong>é</strong>rias industriais, p<strong>ar</strong>ece indic<strong>ar</strong> <strong>que</strong> a alegria e<br />

a sensualidade disponíveis aqui <strong>no</strong>s Estados Unidos, na região do Bronx, precisam<br />

necess<strong>ar</strong>iamente pass<strong>ar</strong> — e estão, na verdade, passando — por uma reconstrução<br />

industrial e social. Fabricada em mat<strong>é</strong>ria escura mas coberta de entalhes e manchas<br />

amplas e vivas de corte abstrato-expressionista (vermelho, am<strong>ar</strong>elo e verde intensos na<br />

face voltada p<strong>ar</strong>a o poente; tonalidades róseas, celestes e pálidas<br />

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