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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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cultural <strong>que</strong> seria o coração do <strong>no</strong>vo complexo suburba<strong>no</strong>. * G<strong>ar</strong>den Cities of To-Morrow<br />

teve tremendo impacto sobre os <strong>ar</strong>quitetos, projetistas e<br />

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fomentadores da primeira metade do s<strong>é</strong>culo XX; eles canaliz<strong>ar</strong>am todas as suas<br />

energias p<strong>ar</strong>a a produção de ambientes “mais agradáveis e vantajosos” <strong>que</strong> deix<strong>ar</strong>iam<br />

p<strong>ar</strong>a trás a metrópole turbulenta.<br />

Explor<strong>ar</strong> em detalhes a metamorfose do Homem do Subterrâneo e do palácio de Cristal<br />

na cultura e sociedade sovi<strong>é</strong>ticas <strong>no</strong>s desvi<strong>ar</strong>ia de <strong>no</strong>sso objetivo. Posso, ao me<strong>no</strong>s,<br />

sugerir como tal exploração deveria ser realizada. Deve-se <strong>no</strong>t<strong>ar</strong>, primeiro, <strong>que</strong> a<br />

primeira geração brilhante de <strong>ar</strong>quitetos e projetistas sovi<strong>é</strong>ticos, embora discordasse<br />

em muitas coisas, era quase unânime na crença de <strong>que</strong> a metrópole moderna era<br />

uma expansão totalmente degenerada do capitalismo e <strong>que</strong> devia termin<strong>ar</strong>. A<strong>que</strong>les<br />

<strong>que</strong> acreditavam <strong>que</strong> as cidades modernas continham alguma coisa digna de ser<br />

preservada eram estigmatizados como antim<strong>ar</strong>xistas, direitistas e reacionários. 44<br />

Segundo, mesmo a<strong>que</strong>les <strong>que</strong> eram a favor de algumas formas de ambientes urba<strong>no</strong>s<br />

concordavam em <strong>que</strong> a rua da cidade era inteiramente perniciosa e devia<br />

desap<strong>ar</strong>ecer, ser substituída por um espaço urba<strong>no</strong> mais aberto, mais verde e,<br />

presumivelmente, mais h<strong>ar</strong>monioso (seus <strong>ar</strong>gumentos se assemelhavam aos de Le<br />

Corbusier, <strong>que</strong> fez várias viagens a Moscou e exerceu grande influência <strong>no</strong> início do<br />

período sovi<strong>é</strong>tico). A obra literária mais crítica da d<strong>é</strong>cada sovi<strong>é</strong>tica de 1920, o romance<br />

futurista e anti-utópico de Evgeni Zamiatin, Nós, foi <strong>no</strong>toriamente suscetível a essa<br />

paisagem emergente. Zamiatin reenc<strong>ar</strong>na o palácio de Cristal de Chernyshevski e o<br />

vocabulário crítico de Dostoievski num cenário visionário de <strong>ar</strong>rani a-c<strong>é</strong>us de vidro e aço<br />

e <strong>ar</strong>cadas envidraçadas brilhantemente concebido. O motif dominante <strong>no</strong> <strong>no</strong>vo mundo<br />

cristali<strong>no</strong> de Zamiatin <strong>é</strong> o gelo, <strong>que</strong> simboliza p<strong>ar</strong>a ele o congelamento do modernismo<br />

e da modernização em formas sólidas, implacáveis, devoradoras da vida. Contra a<br />

frieza e a uniformidade dessas estruturas rec<strong>é</strong>m-cristalizadas e de sua classe<br />

dominante rec<strong>é</strong>m-enrijecida, o herói e a heroína de Zamiatin evocam uma visão<br />

* G<strong>ar</strong>den Cities of To-Morrow, 1902 (MIT, 1965, intr. F. J. Osborn e L. Mumford): sobre a metrópole como<br />

diligência, veja-se p. 146; sobre o palácio de Cristal como modelo suburba<strong>no</strong>, veja-se P- 53-4 e 96-8.<br />

Ironicamente, embora o palácio de Cristal fosse um dos traços mais popul<strong>ar</strong>es do Projeto ideal de How<strong>ar</strong>d, os<br />

homens enc<strong>ar</strong>regados de construir a primeira Cidade-J<strong>ar</strong>dim em Letchworth o excluíram do projeto por ser nãoinglês<br />

(o senhor Podsnap certamente concord<strong>ar</strong>ia), moder<strong>no</strong> em demasia e excessivamente c<strong>ar</strong>o. Eles o substituíram<br />

por uma rua de mercado neomedieval <strong>que</strong> era, a seu ver, mais “orgânica” (Fishman, Urban Utopias in the<br />

Twentieth Century, p. 67-8).<br />

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