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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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Chegando a esse ponto, pretendo us<strong>ar</strong> tal modernismo p<strong>ar</strong>a ger<strong>ar</strong> um diálogo com meu<br />

próprio passado, meu próprio l<strong>ar</strong> perdido, meus próprios fantasmas. Tencio<strong>no</strong> volt<strong>ar</strong> ao<br />

ponto inicial deste ensaio, ao meu bairro do Bronx, vital e florescente há apenas algum<br />

tempo, <strong>ar</strong>ruinado e cinzento hoje em dia. O modernismo pode d<strong>ar</strong> vida a esses<br />

es<strong>que</strong>letos? Num sentido literal, <strong>é</strong> óbvio <strong>que</strong> não: somente o maciço investimento federal,<br />

ao lado da p<strong>ar</strong>ticipação popul<strong>ar</strong> ativa e en<strong>é</strong>rgica, pode de fato trazer o Bronx de volta à<br />

vida. Mas a visão e a imaginação modernistas podem conferir às <strong>no</strong>ssas mutiladas<br />

cidades interiores algo <strong>que</strong> dê sentido à vida, podem ajud<strong>ar</strong> ou forç<strong>ar</strong> a <strong>no</strong>ssa maioria<br />

não-urbana a ver sua m<strong>ar</strong>ca <strong>no</strong> desti<strong>no</strong> da cidade, pode resgat<strong>ar</strong> sua profusão de vida<br />

e beleza, <strong>que</strong> estão enterradas mas não mortas.<br />

À medida <strong>que</strong> me defronto com o Bronx, pretendo us<strong>ar</strong> e fundir dois meios de<br />

expressão distintos <strong>que</strong> floresceram <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 70, um deles inventado apenas<br />

recentemente, o outro bastante antigo mas ultimamente elaborado e desenvolvido. O<br />

primeiro deles <strong>é</strong> de<strong>no</strong>minado “obras da terra” ou “<strong>ar</strong>te da terra”. Remonta ao início da<br />

d<strong>é</strong>cada de 70, e seu maior espírito criativo foi Robert Smithson, tragicamente morto<br />

com apenas trinta e cinco a<strong>no</strong>s, num desastre de avião, em 1973. Smithson era<br />

obcecado pelas ruínas fabricadas pelo homem: montes de refugos, depósitos de<br />

sucatas, minas abandonadas, pedreiras esgotadas, tan<strong>que</strong>s e canais poluídos, o monte<br />

de entulho <strong>que</strong> ocupava o sítio do Central P<strong>ar</strong>k antes da chegada de Olmsted. Durante<br />

toda a d<strong>é</strong>cada de 70, Smithson viajou de um lado a outro do país, procurando em vão<br />

interess<strong>ar</strong> os burocratas do gover<strong>no</strong> ou de empresas privadas na id<strong>é</strong>ia de <strong>que</strong><br />

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uma solução prática p<strong>ar</strong>a a utilização de áreas devastadas seria a reciclagem da terra e<br />

da água, em termos da “<strong>ar</strong>te da terra”. (...) A <strong>ar</strong>te pode torn<strong>ar</strong>-se um recurso <strong>que</strong> faz a<br />

mediação entre o ecologista e o industrialista. A ecologia e a indústria não são vias de<br />

mão única. Ao contrário, podem se transform<strong>ar</strong> em caminhos cruzados. A <strong>ar</strong>te pode<br />

proporcion<strong>ar</strong> a dial<strong>é</strong>tica necessária entre eles. 19<br />

Smithson foi forçado a percorrer grandes distâncias em meio às vastidões do Meio-<br />

Oeste e do Sul; não viveu p<strong>ar</strong>a ver uma imensa terra devastada aberta <strong>no</strong> Bronx, uma<br />

tela ideal p<strong>ar</strong>a sua <strong>ar</strong>te, virtualmente à sua porta. Mas seu pensamento está ple<strong>no</strong> de<br />

pistas de como podemos proceder <strong>no</strong> caso. É essencial — ele diria, com certeza —<br />

aceit<strong>ar</strong> o processo de desintegração como um quadro de referência p<strong>ar</strong>a <strong>no</strong>vas<br />

esp<strong>é</strong>cies de integração, us<strong>ar</strong> o entulho como um meio de construir <strong>no</strong>vas formas e fazer<br />

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