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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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uma <strong>ar</strong>te <strong>que</strong> seria, como disse Allen Kaprow em 1958, “preocupada e mesmo<br />

fascinada pelo espaço e os objetos da vida cotidiana, seja os <strong>no</strong>ssos corpos, roupas,<br />

qu<strong>ar</strong>tos ou, se necessários, a vastidão da 42th Street”. 12 Kaprow, Jim Dine, Robert<br />

Whitman, Red Grooms, George Segal, Claes Oldenburg e outros estavam se afastando<br />

não apenas da linguagem do expressionismo abstrato tão difundida na d<strong>é</strong>cada de 50<br />

como tamb<strong>é</strong>m da planura e confinamento da pintura enquanto tal.<br />

Eles fizeram experiências com uma v<strong>ar</strong>iedade fascinante de formas <strong>ar</strong>tísticas: formas<br />

<strong>que</strong> incorpor<strong>ar</strong>am e transform<strong>ar</strong>am materiais<br />

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não-<strong>ar</strong>tísticos — sucata, entulhos e objetos colhidos na rua; ambientes tridimensionais<br />

<strong>que</strong> combinavam a pintura, a <strong>ar</strong>quitetura e a escultura — quando não o teatro e a<br />

dança — e <strong>que</strong> cri<strong>ar</strong>am evocações distorcidas (em geral, numa forma expressionista)<br />

mas vivamente reconhecíveis da vida real; happenings <strong>que</strong> saíam dos ateliês e das<br />

galerias diretamente p<strong>ar</strong>a as ruas, a fim de afirm<strong>ar</strong> sua presença e pratic<strong>ar</strong> ações <strong>que</strong><br />

a um só tempo incorpor<strong>ar</strong>iam e enri<strong>que</strong>ceriam a própria vida espontânea e aberta das<br />

ruas. A obra Burning Building (“Edifício em Chamas”), de Groom, de 1959 (<strong>que</strong><br />

pr<strong>é</strong>figura seu espetacul<strong>ar</strong> Ruckus Manhattan (“Manhattanem Balbúrdia”), de meados<br />

da d<strong>é</strong>cada de 70), bem como a obra de Oldenburg The Street: A Metamorphic Mural<br />

(“A Rua: Um Mural Metamórfico”), de 1960, há muito desmontada mas preservada em<br />

filme, estão entre os trabalhos mais instigantes da<strong>que</strong>les dias vertigi<strong>no</strong>sos. Numa <strong>no</strong>ta<br />

sobre The Street, Oldenburg afirmou com agridoce ironia, típica de sua <strong>ar</strong>te: “A cidade <strong>é</strong><br />

uma paisagem <strong>que</strong> vale apreci<strong>ar</strong> — malditamente necessária se você vive nela”. Sua<br />

busca de apreciação do urba<strong>no</strong> conduziu-o a direções peculi<strong>ar</strong>es: “A sujeira tem<br />

profundidade e beleza. Adoro chamusc<strong>ar</strong>-me e suj<strong>ar</strong>-me em fuligem”. Ele abraçou “a<br />

imundície da cidade, os demônios da propaganda, a mol<strong>é</strong>stia do sucesso, da cultura<br />

popul<strong>ar</strong>”.<br />

O fato essencial, dizia Oldenburg, era “procur<strong>ar</strong> a beleza onde não se pensa <strong>que</strong><br />

esteja”. 13 Ora, esta última injunção tem sido um imperativo modernista permanente<br />

desde os tempos de M<strong>ar</strong>x e Engels, Dickens e Dostoievski, Baudelaire e Courbet.<br />

Ganhou uma ressonância especial na Nova Ior<strong>que</strong> dos a<strong>no</strong>s 60 por<strong>que</strong>, ao contrário da<br />

“Cidade-Imp<strong>é</strong>rio” em constante expansão física e metafísica <strong>que</strong> inspirava as primeiras<br />

gerações de modernistas, essa era uma Nova Ior<strong>que</strong> cuja tessitura começava a se<br />

decompor. Mas a própria transformação <strong>que</strong> fez a cidade p<strong>ar</strong>ecer exaurida e <strong>ar</strong>caica,<br />

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