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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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Petersburgo (elas ocorreram quase precisamente em intervalos de cem a<strong>no</strong>s, e todas<br />

em momentos cruciais da história: a primeira em 1725, logo após a morte de Pedro; a<br />

mais recente em 1924, logo após a morte de Lenin). Puchkin escreve uma <strong>no</strong>ta de<br />

abertura p<strong>ar</strong>a o poema: “O incidente descrito neste conto <strong>é</strong> baseado em fato verídico.<br />

Os detalhes são extraídos de revistas contemporâneas. Os curiosos poderão examiná-<br />

los <strong>no</strong> material compilado por V. I. Berkh”. A insistência de Puchkin quanto à<br />

fatualidade concreta de seu material e a alusão aos jornais da <strong>é</strong>poca ligam seu poema<br />

às tradições do romance realista do s<strong>é</strong>culo XIX. 5 O fato de eu me referir à tradução em<br />

prosa de Edmund Wilson, a mais expressiva <strong>que</strong> pude encontr<strong>ar</strong>, torn<strong>ar</strong>á essa ligação<br />

mais cl<strong>ar</strong>a. 6 Ao mesmo tempo, “O Cavaleiro de Bronze” revel<strong>ar</strong>á, tal como a grande<br />

tradição <strong>que</strong> inaugura, a qualidade surreal da vida real de Petersburgo.<br />

“Ao lado das desoladas ondas, permanecia Ele e, invadido por poderosos<br />

pensamentos, contemplava o horizonte.” Assim começa “O Cavaleiro de Bronze”: <strong>é</strong><br />

uma esp<strong>é</strong>cie de Gênesis de Petersburgo, surgindo na mente do Deus-criador da<br />

cidade: “Ele pensou: aqui, p<strong>ar</strong>a <strong>no</strong>ssa grandeza, a natureza orde<strong>no</strong>u <strong>que</strong> deveríamos<br />

romper uma janela p<strong>ar</strong>a a Europa, crav<strong>ar</strong> os p<strong>é</strong>s solidamente ao lado do m<strong>ar</strong>.” Puchkin<br />

usa a imagem famili<strong>ar</strong> da janela p<strong>ar</strong>a a Europa, só <strong>que</strong> a vê como<br />

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algo <strong>que</strong> se rompe, atrav<strong>é</strong>s de um ato de violência, violência <strong>que</strong> se volt<strong>ar</strong>á contra a<br />

cidade à medida <strong>que</strong> o poema avança. Há ironia <strong>no</strong>s “p<strong>é</strong>s” (de Pedro) solidamente<br />

cravados “ao lado do m<strong>ar</strong>”: a base de Petersburgo mostr<strong>ar</strong>á ser muito mais precária<br />

<strong>que</strong> seu criador pode imagin<strong>ar</strong>.<br />

“Cem a<strong>no</strong>s se pass<strong>ar</strong>am, e a<strong>que</strong>la jovem cidade, beleza e prodígio das terras<br />

setentrionais (...) elevou-se em toda sua grandeza e orgulho.” Puchkin evoca essa<br />

grandeza em imagens ufanísticas: “Hoje, aglomerações de torres e castelos, fortes e<br />

sim<strong>é</strong>tricas, ladeiam as docas at<strong>ar</strong>efadas; de todos os cantos do mundo fluem navios<br />

p<strong>ar</strong>a esse rico porto; o Neva (literalmente “lama”) se revestiu de pedras; pontes<br />

cruz<strong>ar</strong>am- suas águas e bos<strong>que</strong>s verde-escuros cobrem suas ilhas; e agora, frente à<br />

<strong>no</strong>va capital, o brilho da velha Moscou se esvai, tal qual diante da <strong>no</strong>va cz<strong>ar</strong>ina, o da<br />

viúva de púrpura”.<br />

Ele afirma sua presença nesse momento: “Amo-te, obra-prima de Pedro — amo tuas<br />

formas, graciosas e austeras. A corrente poderosa do Neva, suas m<strong>ar</strong>gens vestidas de<br />

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