26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

desenvolvidos? Eles talvez p<strong>ar</strong>tilhem a busca comum de um infinito bem-est<strong>ar</strong><br />

experimental; todavia, isso não seria “o verdadeiro domínio público, mas apenas<br />

atividades privadas, soltas <strong>no</strong> espaço aberto”. Uma sociedade como essa poderia<br />

perfeitamente vir a experiment<strong>ar</strong> uma sensação coletiva de futilidade: “a futilidade de<br />

uma vida <strong>que</strong> não se fixa nem se afirma em qual<strong>que</strong>r objetivo permanente, a qual<br />

perdure p<strong>ar</strong>a al<strong>é</strong>m do esforço despendido”. 24<br />

Essa crítica a M<strong>ar</strong>x levanta um autêntico e urgente problema huma<strong>no</strong>. Entretanto,<br />

Arendt não obt<strong>é</strong>m resultados melhores <strong>que</strong> os de M<strong>ar</strong>x na sua tentativa de resolvê-lo.<br />

Aqui, como em muitos de seus livros, tece uma esplêndida retórica em tor<strong>no</strong> de vida e<br />

ação públicas, mas não deixa cl<strong>ar</strong>o em <strong>que</strong> consistem essa vida e essa ação — salvo a<br />

id<strong>é</strong>ia de <strong>que</strong> vida política não inclui as atividades cotidianas das pessoas, seu trabalho<br />

e suas relações de produção. (Essas são atribuídas aos “cuidados dom<strong>é</strong>sticos”, um<br />

âmbito subpolítico, <strong>que</strong> Arendt considera como desprovido da capacidade de cri<strong>ar</strong><br />

valores huma<strong>no</strong>s.) Ela nunca escl<strong>ar</strong>ece o <strong>que</strong> homens e mulheres moder<strong>no</strong>s podem<br />

p<strong>ar</strong>tilh<strong>ar</strong>, al<strong>é</strong>m de retórica sublime. Arendt tem razão em afirm<strong>ar</strong> <strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x jamais<br />

desenvolveu uma teoria da comunidade política e <strong>que</strong> isso <strong>é</strong> um problema s<strong>é</strong>rio. Por<strong>é</strong>m,<br />

a <strong>que</strong>stão <strong>é</strong> <strong>que</strong>, dado o impulso niilista do moder<strong>no</strong> desenvolvimento pessoal e social,<br />

não está nada cl<strong>ar</strong>o <strong>que</strong> fronteiras políticas o homem moder<strong>no</strong> pode cri<strong>ar</strong>. Assim, a<br />

dificuldade com o pensamento de M<strong>ar</strong>x vem a ser a dificuldade <strong>que</strong> percorre toda a<br />

estrutura da própria vida moderna.<br />

Venho tentante demonstr<strong>ar</strong> <strong>que</strong> as mais severas críticas à vida moderna têm a<br />

imperiosa necessidade de recorrer ao modernismo, p<strong>ar</strong>a <strong>no</strong>s mostr<strong>ar</strong> em <strong>que</strong> ponto<br />

estamos e a p<strong>ar</strong>tir de <strong>que</strong> ponto podemos começ<strong>ar</strong> a mud<strong>ar</strong> <strong>no</strong>ssas circunstâncias e a<br />

nós mesmos. Em busca de<br />

124<br />

um ponto de p<strong>ar</strong>tida, retornei a um dos primeiros e grandes modernistas, K<strong>ar</strong>l M<strong>ar</strong>x.<br />

Voltei a ele não tanto por suas respostas, mas por suas perguntas. O <strong>que</strong> de mais<br />

valioso ele <strong>no</strong>s tem a oferecer, hoje, não <strong>é</strong> um caminho <strong>que</strong> permita sair das<br />

contradições da vida moderna, e sim um caminho mais seguro e mais profundo <strong>que</strong> <strong>no</strong>s<br />

colo<strong>que</strong> exatamente <strong>no</strong> cerne dessas contradições. Ele sabia <strong>que</strong> o caminho p<strong>ar</strong>a al<strong>é</strong>m<br />

das contradições teria de ser procurado atrav<strong>é</strong>s da modernidade, não fora dela. Ele<br />

sabia <strong>que</strong> precisamos começ<strong>ar</strong> do ponto onde estamos: psiquicamente nus, despidos<br />

de qual<strong>que</strong>r halo religioso, est<strong>é</strong>tico ou moral, e de v<strong>é</strong>us sentimentais, devolvidos à <strong>no</strong>ssa<br />

127

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!