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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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do Vietnã podia ser em grande p<strong>ar</strong>te responsabilizada) com uma crise energ<strong>é</strong>tica de<br />

c<strong>ar</strong>áter mundial em ple<strong>no</strong> desenvolvimento (<strong>que</strong> em p<strong>ar</strong>te podíamos atribuir a <strong>no</strong>sso<br />

sucesso espetacul<strong>ar</strong>) estava fadada a cobr<strong>ar</strong> seu tributo — embora ningu<strong>é</strong>m pudesse<br />

prever <strong>no</strong> início da d<strong>é</strong>cada de 70 a dimensão <strong>que</strong> teria esse tributo.<br />

O colapso do boom não ameaçava a todos — os muito ricos estavam convenientemente<br />

isolados, como de hábito —, mas a visão de todas as pessoas sobre o mundo moder<strong>no</strong> e<br />

suas possibilidades passou a ser reformulada. Os horizontes de expansão e o<br />

crescimento se contraíram de forma brusca: após d<strong>é</strong>cadas sendo alimentadas com<br />

energia b<strong>ar</strong>ata e abundante o suficiente p<strong>ar</strong>a cri<strong>ar</strong> e recri<strong>ar</strong> incessantemente o mundo,<br />

as sociedades modernas teriam agora de aprender com rapidez como utiliz<strong>ar</strong> suas<br />

limitadas fontes de energia p<strong>ar</strong>a proteger seus recursos em decr<strong>é</strong>scimo e p<strong>ar</strong>a evit<strong>ar</strong><br />

<strong>que</strong> todo o seu mundo ruísse. Durante a próspera d<strong>é</strong>cada <strong>que</strong> se seguiu à Primeira<br />

Guerra Mundial, o símbolo dominante da modernidade foi o sinal verde; <strong>no</strong> curso do<br />

surto espetacul<strong>ar</strong> <strong>que</strong> se seguiu à Segunda Guerra Mundial, o símbolo central foi o<br />

sistema federal de rodovias, em <strong>que</strong> o motorista podia cruz<strong>ar</strong> o país de costa a costa<br />

sem defront<strong>ar</strong> nenhum sinal de p<strong>ar</strong>ada. Con<strong>tudo</strong>, as sociedades modernas da d<strong>é</strong>cada<br />

de 70 foram forçadas a viver à sombra da<br />

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velocidade máxima e do sinal vermelho. Nesses a<strong>no</strong>s de reduzida mobilidade, os homens<br />

e as mulheres moder<strong>no</strong>s precis<strong>ar</strong>am por toda a p<strong>ar</strong>te pens<strong>ar</strong> profundamente at<strong>é</strong> onde<br />

e em <strong>que</strong> direção <strong>que</strong>riam ir, bem como busc<strong>ar</strong> <strong>no</strong>vos meios onde poderiam se<br />

locomover. Foi desse processo de pensamento e de busca — um processo <strong>que</strong> apenas<br />

começou — <strong>que</strong> brot<strong>ar</strong>am os modernismos dos a<strong>no</strong>s 70.<br />

A fim de mostr<strong>ar</strong> como as coisas mud<strong>ar</strong>am, pretendo volt<strong>ar</strong> brevemente ao extenso<br />

debate sobre o significado da modernidade na d<strong>é</strong>cada de 60. Uma das últimas<br />

intervenções interessantes nesse debate, e talvez uma esp<strong>é</strong>cie de homenagem a ele,<br />

foi intitulada “História Literária e Modernidade Literária”, do crítico Paul de Man. P<strong>ar</strong>a De<br />

Man, <strong>que</strong> escrevia em 1969, “toda a força da id<strong>é</strong>ia de modernidade” repousa <strong>no</strong> “desejo<br />

de remover <strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> tenha vindo anteriormente”, de modo a atingir “um <strong>no</strong>vo ponto<br />

de p<strong>ar</strong>tida radicalmente <strong>no</strong>vo, um ponto <strong>que</strong> possa ser um verdadeiro presente”. De<br />

Man recorria como pedra de to<strong>que</strong> da modernidade à id<strong>é</strong>ia nietzscheana (desenvolvida<br />

em O Uso e o Abuso da História, 1873) de <strong>que</strong> <strong>é</strong> necessário es<strong>que</strong>cer intencionalmente<br />

o passado com o intuito de realiz<strong>ar</strong> ou cri<strong>ar</strong> alguma coisa <strong>no</strong> presente. “O es<strong>que</strong>cimento<br />

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