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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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Que esp<strong>é</strong>cie de pessoas produz essa revolução permanente? P<strong>ar</strong>a <strong>que</strong> as pessoas<br />

sobrevivam na sociedade moderna, qual<strong>que</strong>r <strong>que</strong> seja a sua classe, suas<br />

personalidades necessitam assumir a fluidez e a forma aberta dessa sociedade.<br />

Homens e mulheres moder<strong>no</strong>s precisam aprender a aspir<strong>ar</strong> à mudança: não apenas<br />

est<strong>ar</strong> aptos a mudanças em sua vida pessoal e social, mas ir efetivamente em busca<br />

das mudanças, procurá-las de maneira ativa, levando-as adiante. Precisam aprender a<br />

não lament<strong>ar</strong> com muita <strong>no</strong>stalgia as “relações fixas, imobilizadas” de um passado<br />

real ou de fantasia, mas a se delici<strong>ar</strong> na mobilidade, a se empenh<strong>ar</strong> na re<strong>no</strong>vação, a<br />

olh<strong>ar</strong> sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas condições de vida e em<br />

suas relações com outros seres huma<strong>no</strong>s.<br />

M<strong>ar</strong>x absorve esse ideal desenvolvimentista da cultura humanística alemã de sua<br />

juventude, do pensamento de Goethe e Schiller e seus sucessores românticos. Esse<br />

tema, e seus desdobramentos, ainda muito ativo em <strong>no</strong>ssos dias — Erik Erikson <strong>é</strong> seu<br />

mais famoso expoente vivo —, talvez seja a mais profunda e duradoura contribuição<br />

germânica à cultura mundial. M<strong>ar</strong>x <strong>é</strong> perfeitamente cônscio de seus vínculos com esses<br />

escritores, a <strong>que</strong>m ele cita e faz alusões, com freqüência, bem como à sua tradição<br />

intelectual. Por<strong>é</strong>m, ele compreendeu aquilo <strong>que</strong> escapou à maioria de seus<br />

predecessores — a grande exceção <strong>é</strong> o velho Goethe, autor da segunda p<strong>ar</strong>te do<br />

Fausto: <strong>que</strong> o ideal humanístico do autodesenvolvimento se dá a p<strong>ar</strong>tir da emergente<br />

realidade do desenvolvimento econômico burguês. Por isso, por causa de todas as<br />

suas invectivas contra a eco<strong>no</strong>mia burguesa, M<strong>ar</strong>x adota com entusiasmo a estrutura<br />

de personalidade produzida por essa eco<strong>no</strong>mia. O problema<br />

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do capitalismo <strong>é</strong> <strong>que</strong>, aqui como em qual<strong>que</strong>r p<strong>ar</strong>te, ele destrói as possibilidades<br />

humanas por ele criadas. Estimula, ou melhor, força o autodesenvolvimento de<br />

todos, mas as pessoas só podem desenvolver-se de maneira restrita e distorcida.<br />

As disponibilidades, impulsos e talentos <strong>que</strong> o mercado pode aproveit<strong>ar</strong> são<br />

pressionados (quase sempre prematuramente) na direção do desenvolvimento e<br />

sugados at<strong>é</strong> a exaustão; <strong>tudo</strong> o mais, em nós, <strong>tudo</strong> o mais <strong>que</strong> não <strong>é</strong> atraente<br />

p<strong>ar</strong>a o mercado <strong>é</strong> reprimido de maneira drástica, ou se deteriora por falta de<br />

uso, ou nunca tem uma chance real de se manifest<strong>ar</strong>. 5<br />

A solução irônica e feliz dessa contradição ocorrerá, diz M<strong>ar</strong>x, quando “o<br />

desenvolvimento da moderna indústria se sep<strong>ar</strong><strong>ar</strong> do próprio solo, logo abaixo<br />

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