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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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como Gretchen, personificam o <strong>que</strong> de melhor o velho mundo pode oferecer. São<br />

demasiado velhos, demasiado teimosos, talvez demasiado estúpidos p<strong>ar</strong>a se adapt<strong>ar</strong><br />

e mud<strong>ar</strong>; <strong>no</strong> entanto, são pessoas belíssimas, o sal da terra em <strong>que</strong> vivem. É sua<br />

beleza e <strong>no</strong>breza <strong>que</strong> deixam Fausto tão incomodado. “Meu rei<strong>no</strong> <strong>é</strong> infinito diante dos<br />

olhos; pelas costas eu ouço a zomb<strong>ar</strong>ia.” Ele sente <strong>que</strong> <strong>é</strong> aterrorizador olh<strong>ar</strong> p<strong>ar</strong>a trás,<br />

enc<strong>ar</strong><strong>ar</strong> o velho mundo. “Se eu tivesse me detido lá, pelo calor, suas sombras me<br />

encheriam de medo.” Se ele p<strong>ar</strong>asse, algo muito escuro nessas sombras o aprision<strong>ar</strong>ia.<br />

“O pe<strong>que</strong><strong>no</strong> si<strong>no</strong> toca e eu me enfureço!” (11235-55)<br />

Os si<strong>no</strong>s da igreja, <strong>é</strong> cl<strong>ar</strong>o, representam o som da culpa e do infortúnio, e todas as<br />

forças psíquicas e sociais <strong>que</strong> destruíram a jovem <strong>que</strong> ele amava: <strong>que</strong>m poderia<br />

condená-lo por tent<strong>ar</strong> silenci<strong>ar</strong> esse som p<strong>ar</strong>a sempre? Al<strong>é</strong>m disso, os si<strong>no</strong>s da igreja<br />

foram tamb<strong>é</strong>m o som <strong>que</strong> o chamou de volta à vida, quando estava a ponto de morrer.<br />

Há mais de si mesmo nesses si<strong>no</strong>s e na<strong>que</strong>le mundo do <strong>que</strong> ele gost<strong>ar</strong>ia de pens<strong>ar</strong>. O<br />

mágico poder dos si<strong>no</strong>s na manhã de Páscoa representa o poder <strong>que</strong><br />

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pôs Fausto em contato com sua própria infância. Sem esse vínculo vital com o<br />

passado — fonte primária de energia espontânea e prazer de viver — ele jamais<br />

cheg<strong>ar</strong>ia a desenvolver a força interior capaz de transform<strong>ar</strong> o presente e o futuro.<br />

Mas, agora <strong>que</strong> ele firmou sua plena identidade como desejo de mudança e<br />

como poder de satisfazer esse desejo, a<strong>que</strong>le vínculo com o passado o aterroriza.<br />

A<strong>que</strong>le si<strong>no</strong>, o doce perfume da<strong>que</strong>las tílias,<br />

Me envolvem como uma igreja ou uma tumba.<br />

P<strong>ar</strong>a o fomentador, deix<strong>ar</strong> de mover-se, permanecer nas sombras, ser envolvido<br />

pelos velhos — <strong>é</strong> o mesmo <strong>que</strong> morrer. Não obstante, p<strong>ar</strong>a esse tipo de homem,<br />

trabalh<strong>ar</strong> sob as explosivas pressões do desenvolvimento, torturado pela culpa aí<br />

implícita — a promessa de paz do si<strong>no</strong> deve so<strong>ar</strong> como bem-aventurança.<br />

Exatamente por<strong>que</strong> acha os si<strong>no</strong>s tão doces, as árvores tão encantadoras, <strong>tudo</strong><br />

tão escuro e profundo, <strong>é</strong> <strong>que</strong> Fausto <strong>é</strong> levado a se desfazer de <strong>tudo</strong> isso.<br />

Comentadores do Fausto r<strong>ar</strong>amente se dão conta da ressonância humana e<br />

dramática desse episódio. De fato, ele <strong>é</strong> capital p<strong>ar</strong>a a perspectiva histórica de<br />

Goethe. A destruição de Filemo e Báucia, por Fausto, vem a ser o clímax irônico<br />

da vida deste último. Ao mat<strong>ar</strong> o casal de velhos, ele pronuncia sua própria<br />

sentença de morte. Tendo eliminado todos os vestígios deles e do seu velho<br />

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