26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

um gênero urba<strong>no</strong> popul<strong>ar</strong> ao extremo, oferecido em centenas de jornais europeus e<br />

<strong>no</strong>rte-<br />

143<br />

america<strong>no</strong>s. Muitos dos grandes escritores do s<strong>é</strong>culo XIX us<strong>ar</strong>am essa forma p<strong>ar</strong>a se<br />

apresent<strong>ar</strong> a um público de massa: Balzac, Gogol e Poe, na geração anterior à de<br />

Baudelaire; M<strong>ar</strong>x e Engels, Dickens, Whitman e Dostoievski, na sua geração. É<br />

fundamental lembr<strong>ar</strong> <strong>que</strong> os poemas constantes em Spleen de P<strong>ar</strong>is não se apresentam<br />

como versos, uma forma de <strong>ar</strong>te estabelecida, mas como prosa, <strong>no</strong> formato das<br />

<strong>no</strong>tícias. 20<br />

No prefácio a Spleen de P<strong>ar</strong>is, Baudelaire proclama <strong>que</strong> la vie moderne exige uma <strong>no</strong>va<br />

linguagem: “uma prosa po<strong>é</strong>tica, musical mas sem ritmo e sem rima, suficientemente<br />

flexível e suficientemente rude p<strong>ar</strong>a adapt<strong>ar</strong>-se aos impulsos líricos da alma, às<br />

modulações do sonho, aos saltos e sobressaltos da consciência”. Sublinha <strong>que</strong> “esse<br />

ideal obsessivo nasceu, acima de <strong>tudo</strong>, da observação das cidades e<strong>no</strong>rmes e do<br />

cruzamento de suas inúmeras conexões”. O <strong>que</strong> Baudelaire procura comunic<strong>ar</strong> atrav<strong>é</strong>s<br />

dessa linguagem, antes de mais nada, <strong>é</strong> aquilo <strong>que</strong> cham<strong>ar</strong>ei de cenas modernas<br />

primordiais: experiências <strong>que</strong> brotam da concreta vida cotidiana da P<strong>ar</strong>is de Bonap<strong>ar</strong>te<br />

e de Haussmann, mas estão impregnadas de uma ressonância e uma profundidade<br />

míticas <strong>que</strong> as impelem p<strong>ar</strong>a al<strong>é</strong>m de seu tempo e lug<strong>ar</strong>, transformando-as em<br />

<strong>ar</strong>qu<strong>é</strong>tipos da vida moderna.<br />

3. A FAMÍLIA DE OLHOS<br />

Nossa primeira cena primordial emerge em “Os Olhos dos Pobres” (Spleen de P<strong>ar</strong>is, n?<br />

26). Esse poema assume a forma da <strong>que</strong>ixa do apaixonado: o n<strong>ar</strong>rador explica à<br />

mulher <strong>que</strong> ama por <strong>que</strong> ele se sente distante e am<strong>ar</strong>go em relação a ela. Lembra-lhe a<br />

experiência <strong>que</strong> ambos há pouco p<strong>ar</strong>tilh<strong>ar</strong>am. Era a t<strong>ar</strong>de de um longo e adorável dia<br />

<strong>que</strong> eles pass<strong>ar</strong>am juntos. Sent<strong>ar</strong>am-se <strong>no</strong> terraço “em frente a um <strong>no</strong>vo caf<strong>é</strong>, na<br />

esquina de um <strong>no</strong>vo bulev<strong>ar</strong>”. O bulev<strong>ar</strong> estava “ainda atulhado de detritos”, mas o caf<strong>é</strong><br />

“já exibia orgulhoso seus infinitos esplendores”. O mais alto desses esplendores era um<br />

facho de luz <strong>no</strong>va: “O caf<strong>é</strong> estava deslumbrante. At<strong>é</strong> o gás <strong>que</strong>imava com o <strong>ar</strong>dor de<br />

uma iniciação; com toda a sua energia, iluminava a cegante brancura das p<strong>ar</strong>edes, a<br />

extensão dos espelhos, as cornijas e as molduras douradas”. Me<strong>no</strong>s deslumbrante era<br />

146

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!