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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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capitalista, de Adam Ferguson a Milton Friedman, <strong>é</strong> <strong>no</strong>tavelmente pálido e sem vida. Os<br />

celebrantes do capitalismo falam-<strong>no</strong>s surpreendentemente pouco de seus infinitos<br />

horizontes, de sua audácia e energia revolucionárias, sua criatividade dinâmica, seu<br />

espírito de aventura, sua capacidade não apenas de d<strong>ar</strong> mais conforto aos homens,<br />

mas de torná-los mais vivos. A burguesia e seus ideólogos jamais se <strong>no</strong>tabiliz<strong>ar</strong>am por<br />

humildade ou mod<strong>é</strong>stia; <strong>no</strong> entanto, p<strong>ar</strong>ecem estranhamente empenhados em esconder<br />

muito de sua própria luz sob um punhado de <strong>ar</strong>gumentos irrelevantes. A razão,<br />

suponho, <strong>é</strong> <strong>que</strong> existe um lado escuro dessa luz <strong>que</strong> eles não são capazes de suprimir.<br />

Eles têm uma vaga consciência desse fato, todavia se sentem profundamente<br />

constrangidos e amedrontados por isso, a ponto de preferirem ig<strong>no</strong>r<strong>ar</strong> ou neg<strong>ar</strong> sua<br />

própria força e criatividade a olh<strong>ar</strong> de frente suas virtudes e conviver com elas.<br />

O <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>que</strong> os membros da burguesia têm medo de reconhecer em si próprios? Não<br />

seu impulso em explor<strong>ar</strong> pessoas, tratando-as simplesmente como meios ou (em termos<br />

mais econômicos do <strong>que</strong> morais) mercadorias. A burguesia, como M<strong>ar</strong>x o sabe, não<br />

perde o so<strong>no</strong> por isso. Antes de mais nada, os burgueses agem dessa forma uns com<br />

os outros, e at<strong>é</strong> consigo mesmos; por <strong>que</strong> não haveriam de agir assim com qual<strong>que</strong>r<br />

um? A verdadeira fonte do problema <strong>é</strong> <strong>que</strong> a burguesia proclama ser o “P<strong>ar</strong>tido da<br />

Ordem” na política e na cultura modernas. O imenso volume de dinheiro e energia<br />

investido em construir e o auto-assumido c<strong>ar</strong>áter monumental de muito dessa<br />

construção — de fato, em todo o s<strong>é</strong>culo de M<strong>ar</strong>x, cada mesa e cadeira num interior<br />

burguês se assemelhava a um monumento — testemunham a sinceridade e seriedade<br />

dessa proclamação. Não obstante, a verdade <strong>é</strong> <strong>que</strong>, como M<strong>ar</strong>x o vê, <strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> a<br />

sociedade burguesa constrói <strong>é</strong> construído p<strong>ar</strong>a ser posto abaixo. “Tudo o <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>sólido</strong>”<br />

— das roupas sobre <strong>no</strong>ssos corpos aos te<strong>ar</strong>es e fábricas <strong>que</strong> as tecem, aos homens e<br />

mulheres <strong>que</strong> operam as máquinas, às casas e aos bairros onde vivem os<br />

trabalhadores, às firmas e corporações <strong>que</strong> os exploram, às vilas e cidades, regiões<br />

inteiras e at<strong>é</strong> mesmo as nações <strong>que</strong> as envolvem — <strong>tudo</strong> isso <strong>é</strong> feito p<strong>ar</strong>a ser desfeito<br />

amanhã, despedaçado ou esf<strong>ar</strong>rapado, pulverizado ou dissolvido, a fim de <strong>que</strong> possa<br />

ser reciclado ou substituído na semana seguinte e todo o processo possa seguir<br />

adiante, sempre adiante, talvez p<strong>ar</strong>a sempre, sob formas cada vez mais lucrativas.<br />

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O pathos de todos os monumentos burgueses <strong>é</strong> <strong>que</strong> sua força e solidez material na<br />

verdade não contam p<strong>ar</strong>a nada e c<strong>ar</strong>ecem de qual<strong>que</strong>r peso em si; 10 <strong>é</strong> <strong>que</strong> eles se<br />

97

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