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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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especialmente vivida e estimulante <strong>no</strong> Manifesto Comunista, abrindo <strong>no</strong>va perspectiva<br />

<strong>que</strong> permite compreendê-lo como o <strong>ar</strong>qu<strong>é</strong>tipo de um s<strong>é</strong>culo inteiro de manifestos e<br />

movimentos modernistas <strong>que</strong> se sucederiam. O Manifesto expressa algumas das mais<br />

profundas percepções da cultura modernista e, ao mesmo tempo, dramatiza algumas<br />

de suas mais profundas contradições internas.<br />

Neste ponto, caberia pergunt<strong>ar</strong>: não existem já interpretações de M<strong>ar</strong>x em número mais<br />

do <strong>que</strong> suficiente? Será <strong>que</strong> realmente precisamos de um M<strong>ar</strong>x modernista, outro<br />

espírito afim de Eliot e Kafka, de Schoenberg e Gertrude Stein e Artaud? Eu penso <strong>que</strong><br />

sim, não apenas por<strong>que</strong> M<strong>ar</strong>x aí está, mas por<strong>que</strong> tem algo distinto e importante a<br />

dizer. Com efeito, M<strong>ar</strong>x pode dizer-<strong>no</strong>s do modernismo tanto quanto este <strong>no</strong>s diz do<br />

próprio M<strong>ar</strong>x. O pensamento modernista, tão brilhante e iluminador do lado escuro de<br />

todos e de <strong>tudo</strong>, vem a ter os seus próprios e reprimidos cantos escuros, sobre os quais<br />

M<strong>ar</strong>x pode fazer incidir <strong>no</strong>va luz. Ele pode escl<strong>ar</strong>ecer especificamente a relação entre a<br />

cultura modernista e a eco<strong>no</strong>mia e a sociedade burguesas — o mundo da<br />

“modernização” — das quais a<strong>que</strong>la surgiu. Veremos <strong>que</strong> modernismo e burguesia têm<br />

em comum mais coisas do <strong>que</strong> modernistas e burgueses gost<strong>ar</strong>iam de admitir. Veremos<br />

<strong>que</strong> m<strong>ar</strong>xismo, modernismo e burguesia estão empenhados numa estranha dança<br />

dial<strong>é</strong>tica e, se acompanh<strong>ar</strong>mos seus movimentos, apreenderemos aspectos<br />

importantes do mundo moder<strong>no</strong> <strong>que</strong> todos p<strong>ar</strong>tilhamos.<br />

1. A VISÃO DILUIDORA E SUA DIALÉTICA<br />

O ponto básico <strong>que</strong> fez a fama do Manifesto <strong>é</strong> o desenvolvimento da moderna burguesia<br />

e do prolet<strong>ar</strong>iado e a luta entre ambos. Mas <strong>é</strong> possível encontr<strong>ar</strong> um enredo sob esse<br />

enredo, uma luta dentro da consciência do autor a respeito do <strong>que</strong> realmente está<br />

acontecendo e a respeito do <strong>que</strong> a luta maior significa. Pretendo descrever esse<br />

conflito como a tensão entre a visão “sólida” e a visão “diluidora” de M<strong>ar</strong>x sobre a vida<br />

moderna.<br />

A primeira seção do Manifesto, “Burgueses e Proletários”, apresenta uma visão geral do<br />

<strong>que</strong> hoje <strong>é</strong> chamado o processo de modernização e descreve o cenário daquilo <strong>que</strong><br />

M<strong>ar</strong>x acredita venha a ser o seu clímax revolucionário. Aqui M<strong>ar</strong>x toca <strong>no</strong> <strong>sólido</strong> âmago<br />

institucional da modernidade. Antes de <strong>tudo</strong>, temos aí a emergência de um mercado<br />

mundial. À medida <strong>que</strong> se expande, absorve e destrói todos os mercados locais e<br />

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