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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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formas e movimentos da<strong>que</strong>le mundo. Iriam encontrá-lo num local onde bem poucos<br />

dos modernistas da d<strong>é</strong>cada de 50 teriam sonhado procur<strong>ar</strong>: na vida cotidiana da rua.<br />

É p<strong>ar</strong>a essa vida <strong>que</strong> o Stephen Dedalus de Joyce aponta Com o poleg<strong>ar</strong> e invoca contra<br />

a história oficial ensinada pelo senhor Deasy, representante da Igreja e do Estado: Deus<br />

está ausente dessa história de pesadelo, sugere Stephen, mas está presente <strong>no</strong>s gritos<br />

ap<strong>ar</strong>entemente rudiment<strong>ar</strong>es <strong>que</strong> vêm da rua trazidos ao acaso. Wyndham Lewis<br />

estava escandalizado por tal concepção de verdade e significado, <strong>que</strong><br />

depreciativamente chamava “plainmanism”. * Mas p<strong>ar</strong>a Joyce era exatamente esse o<br />

ponto: fazer so<strong>ar</strong> as incontroladas profundezas da vulg<strong>ar</strong>idade urbana. Dos tempos de<br />

Dickens, Gogol e Dostoievski à <strong>no</strong>ssa era, <strong>é</strong> isso o <strong>que</strong> sempre foi o humanismo<br />

moder<strong>no</strong>.<br />

Se existe uma obra <strong>que</strong> expressa com perfeição o modernismo da rua <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60,<br />

trata-se do <strong>no</strong>tável livro de Jane Jacobs, Morte e Vida das Grandes Cidades Norte-<br />

americanas. O trabalho de Jacob tem sido com freqüência apreciado por seu papel na<br />

transformação das orientações gerais do planejamento urba<strong>no</strong> e comunitário. Isso <strong>é</strong><br />

verdadeiro e não deixa de ser admirável, mas sugere apenas uma pe<strong>que</strong>na p<strong>ar</strong>te<br />

daquilo <strong>que</strong> o livro cont<strong>é</strong>m. Ao cit<strong>ar</strong> Jacobs extensamente nas próximas páginas,<br />

pretendo transmitir a ri<strong>que</strong>za de seu pensamento. Creio <strong>que</strong> seu livro cumpriu um<br />

papel crucial <strong>no</strong> desenvolvimento do modernismo; sua mensagem era <strong>que</strong> muito do<br />

significado <strong>que</strong> os homens e as mulheres moder<strong>no</strong>s buscavam desesperados<br />

encontrava-se, de fato, surpreendentemente próximo de suas casas, perto da<br />

superfície e nas imediações de suas vidas: estava bem ali, bastando <strong>que</strong> soub<strong>é</strong>ssemos<br />

procur<strong>ar</strong>. 11<br />

Jacobs desenvolve seu ponto de vista com ilusória mod<strong>é</strong>stia: <strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> faz <strong>é</strong> fal<strong>ar</strong><br />

sobre a vida do dia-a-dia. “O trecho da Hudson Street onde moro <strong>é</strong> di<strong>ar</strong>iamente o<br />

cenário de um intrincado bale na calçada.”<br />

298<br />

Em seguida, ela descreve vinte e quatro horas na vida de sua rua e, <strong>é</strong> evidente, de sua<br />

própria vida nessa rua. Sua prosa soa freqüentemente line<strong>ar</strong> e quase ingênua. Na<br />

verdade, por<strong>é</strong>m, ela está trabalhando com um gênero importante da <strong>ar</strong>te moderna: a<br />

montagem urbana. À medida <strong>que</strong> percorremos seu ciclo vital de vinte e quatro horas, <strong>é</strong><br />

* De plain man, “homem raso”. (N. T.)<br />

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