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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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e<strong>no</strong>vação e a reforma, com a perp<strong>é</strong>tua transformação de <strong>no</strong>sso mundo e de nós<br />

mesmos — H<strong>ar</strong>old Rosenberg a de<strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u “a tradição do Novo”. Quantos dos judeus<br />

do Bronx, viveiro de todas as formas de radicalismo, estavam dispostas a lut<strong>ar</strong> pela<br />

santidade das “coisas como elas são”? Moses estava destruindo <strong>no</strong>sso mundo e, <strong>no</strong><br />

entanto, p<strong>ar</strong>ecia trabalh<strong>ar</strong> em <strong>no</strong>me de valores <strong>que</strong> nós próprios abraçávamos.<br />

Posso record<strong>ar</strong>-me p<strong>ar</strong>ado acima do canteiro de obras da Via Expressa do Bronx,<br />

lamentando pelos meus vizinhos (cujo desti<strong>no</strong> eu antevia com precisão de pesadelo),<br />

jurando revanche, por<strong>é</strong>m ao mesmo tempo me debatendo com algumas das<br />

inqui<strong>é</strong>tantes ambigüidades e contradições <strong>que</strong> a obra de Moses expressava. A Grande<br />

Confluência, de cujo cume eu vigiava e cogitava, era o <strong>que</strong> tínhamos de mais p<strong>ar</strong>ecido<br />

com um bulev<strong>ar</strong> p<strong>ar</strong>isiense <strong>no</strong> bairro. Dentre seus traços mais <strong>no</strong>táveis encontravam-se<br />

fileiras de amplos e esplêndidos edifícios de ap<strong>ar</strong>tamentos da d<strong>é</strong>cada de 30: simples e<br />

límpidos em suas formas <strong>ar</strong>quitetônicas, fossem geometricamente traçadas ou<br />

biomorficamente curvas; brilhantemente coloridos em tijolos contrastantes,<br />

compensados por aços cromados, belamente intercalados com extensas superfícies de<br />

vidro; abertos à luz e ao <strong>ar</strong>, como p<strong>ar</strong>a anunci<strong>ar</strong> uma vida boa <strong>que</strong> se abria não apenas<br />

aos moradores de elite mas a todos nós. O estilo desses pr<strong>é</strong>dios, hoje conhecido como<br />

Art-deco, era chamado em seus primórdios de “moder<strong>no</strong>”. P<strong>ar</strong>a meus pais, <strong>que</strong> com<br />

orgulho descreviam <strong>no</strong>ssa família<br />

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como “moderna”, os edifícios da Confluência representavam o pináculo da modernidade.<br />

Não podíamos <strong>no</strong>s permitir mor<strong>ar</strong> em um deles — embora residíssemos efetivamente<br />

em um pr<strong>é</strong>dio pe<strong>que</strong><strong>no</strong> e modesto, mas mesmo assim orgulhosamente “moder<strong>no</strong>”, na<br />

p<strong>ar</strong>te mais baixa da colina — e <strong>no</strong> entanto podiam ser admirados livremente, como as filas<br />

de fascinantes transatlânticos <strong>no</strong> porto do centro da cidade. (Hoje os pr<strong>é</strong>dios se<br />

assemelham a vasos de guerra av<strong>ar</strong>iados em docas secas, ao passo <strong>que</strong> os navios<br />

transoceânicos praticamente desap<strong>ar</strong>eceram.)<br />

Enquanto via um dos mais graciosos desses edifícios vir abaixo p<strong>ar</strong>a d<strong>ar</strong> passagem à<br />

estrada, senti um pes<strong>ar</strong> <strong>que</strong>, hoje posso ver, <strong>é</strong> endêmico à vida moderna. Com<br />

demasiada freqüência, o preço da modernidade crescente e em constante avanço <strong>é</strong> a<br />

destruição não apenas das instituições e ambientes “tradicionais” e “pr<strong>é</strong>-moder<strong>no</strong>s”,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m — e aqui está a verdadeira trag<strong>é</strong>dia — de <strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> há de mais vital e belo<br />

<strong>no</strong> próprio mundo moder<strong>no</strong>. Aqui <strong>no</strong> Bronx, graças a Robert Moses, a modernidade do<br />

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