26.04.2013 Views

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

cidade.’”Progresso? Progresso seria Petersburgo <strong>que</strong>im<strong>ar</strong> por inteira!’ , disse o general<br />

irritadiço”, em Fumaça, de Turgueniev (1866). Tal saber torna essa casta ainda mais<br />

decidida a colidir com a multidão de extras <strong>que</strong> aumenta ao seu redor <strong>no</strong>s projetos de<br />

Petersburgo, mas sabe agora, após 19 de fevereiro, <strong>que</strong> seu desd<strong>é</strong>m <strong>ar</strong>rogante <strong>é</strong><br />

simples encenação.<br />

Quanto a esses extras, os “homens de várias origens e classes”, embora constituam a<br />

grande maioria da população urbana, estão ainda, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60, passivos e<br />

atomizados, inquietos nas ruas, protegendo-se <strong>no</strong>s seus capotes. E como poderiam<br />

conjectur<strong>ar</strong>, de onde poderiam começ<strong>ar</strong>? Diferentemente das classes baixas do<br />

Ocidente — mesmo dos mendigos e famílias em andrajos de Baudelaire —, eles não têm<br />

uma tradição de fraternit<strong>é</strong> e ação coletiva em <strong>que</strong> se apoi<strong>ar</strong>. Nesse contexto, os<br />

raz<strong>no</strong>chintsy são levados a invent<strong>ar</strong> uma cultura política moderna própria. E eles<br />

precisam inventá-la ex nihilo, “subterraneamente”, por<strong>que</strong>, na Rússia da d<strong>é</strong>cada de<br />

1860, e ação e pensamento moder<strong>no</strong>s ainda não são permitidos abertamente.<br />

Grandes mudanças se fazem necessárias — autotransformações e transformações<br />

sociais — antes <strong>que</strong> venham a se sentir à vontade na cidade <strong>que</strong> amam e a façam sua.<br />

Um dos passos p<strong>ar</strong>a a transformação <strong>é</strong> o desenvolvimento de uma forma expressiva<br />

peculi<strong>ar</strong> de Petersburgo: a demonstração individual na rua. Vimos essa forma realiz<strong>ar</strong><br />

um trágico debut <strong>no</strong> clímax de “O Cavaleiro de Bronze” — “ainda acert<strong>ar</strong>emos as<br />

contas!” —, mas, na Petersburgo de Nicolau I, ela não pode dur<strong>ar</strong> — “e fugiu<br />

apressadamente”. Duas gerações mais t<strong>ar</strong>de, entretanto, <strong>no</strong> Projeto Nevski, em meio à<br />

modernização abortada, por<strong>é</strong>m real, da d<strong>é</strong>cada de 1860, <strong>é</strong> evidente <strong>que</strong> essa forma<br />

está aí p<strong>ar</strong>a fic<strong>ar</strong>. Ela se ajusta perfeitamente a uma sociedade urbana <strong>que</strong> estimula os<br />

padrões moder<strong>no</strong>s de consumo, mesmo quando reprime os modos moder<strong>no</strong>s de<br />

produção e ação; <strong>que</strong> nutre sensibilidades individuais, sem reconhecer os direitos<br />

individuais, <strong>que</strong> enche seu povo com a necessidade e o desejo de comunicação,<br />

enquanto restringe a comunicação à celebração oficial ou ao romance escapista. Em tal<br />

sociedade, a vida na rua adquire um peso especial, por<strong>que</strong> a rua <strong>é</strong> o único meio onde<br />

a livre comunicação pode ocorrer. Dostoïevski evoca brilhantemente a estrutura e a<br />

dinâmica da demonstração<br />

219<br />

individual e revela as necessidades e contradições desesperadas <strong>que</strong> dão origem a<br />

essa forma. O confronto entre um “homem <strong>no</strong>vo”, um homem <strong>que</strong> acabou de sair do<br />

228

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!