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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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estruturas da cidade. Todavia, por ora, teriam de se retir<strong>ar</strong> furtivamente ou<br />

permanecer escondidos — <strong>no</strong> subterrâneo, segundo a imagem de Dostoïevski na<br />

d<strong>é</strong>cada de 1860 —, e Petersburgo continu<strong>ar</strong>ia a enc<strong>ar</strong>n<strong>ar</strong> o p<strong>ar</strong>adoxo do espaço público<br />

sem vida pública.<br />

PETERSBURGO SOB NICOLAUI: PALÁCIO X PROJETO<br />

O rei<strong>no</strong> de Nicolau I (1825-55), <strong>que</strong> começou com a repressão aos dezembristas e<br />

termi<strong>no</strong>u com a humilhação milit<strong>ar</strong> em Sebastopol, <strong>é</strong> um dos mais sombrios da história<br />

moderna da Rússia. A contribuição mais duradoura de Nicolau p<strong>ar</strong>a a história da Rússia<br />

foi o desenvolvimento de uma polícia política, controlada por sua Terceira Divisão<br />

secreta, <strong>que</strong> veio a se infiltr<strong>ar</strong> em todas as áreas da vida russa e firmou o país, na<br />

imaginação europ<strong>é</strong>ia, como o “Estado policial” <strong>ar</strong><strong>que</strong>típico. Con<strong>tudo</strong>, o problema não<br />

era apenas ser o gover<strong>no</strong> de Nicolau cruelmente repressivo: ter ele contido os servos<br />

(cerca de quatro quintos da população) e destruído todas as esperanças de sua<br />

emancipação, reprimindo-os com terrível brutalidade (houve mais de seiscentos levantes<br />

camponeses <strong>no</strong> reinado de Nicolau; uma de suas grandes realizações foi manter<br />

quase todos esses levantes, e sua repressão, desconhecidos <strong>no</strong> país); ter ele<br />

condenado centenas de pessoas à morte após julgamentos secretos, onde nem<br />

mesmo a fachada legal era mantida (Dostoievski, a vitima mais ilustre, foi perdoado<br />

trinta segundos antes da execução); ter ele estabelecido níveis múltiplos de censura,<br />

enchendo escolas e universidades de informantes, p<strong>ar</strong>alisando todo o sistema<br />

educacional e, finalmente, levando todo o pensamento e cultura não-oficiais à<br />

clandestinidade, à prisão ou ao exílio.<br />

A singul<strong>ar</strong>idade de seu gover<strong>no</strong> reside não <strong>no</strong> fato da repressão ou <strong>no</strong> seu âmbito —<br />

o Estado russo sempre tratou horrivelmente seus súditos —, mas <strong>no</strong> seu objetivo.<br />

Pedro o Grande tinha assassinado e aterrorizado p<strong>ar</strong>a abrir uma janela p<strong>ar</strong>a a<br />

Europa, caminho p<strong>ar</strong>a o progresso e desenvolvimento da Rússia; Nicolau e sua<br />

polícia estavam reprimindo e brutalizando p<strong>ar</strong>a fech<strong>ar</strong> essa janela. A diferença entre o<br />

cz<strong>ar</strong> <strong>que</strong> era o assunto do poema de Puchkin e o cz<strong>ar</strong> <strong>que</strong> proibiu o poema estava na<br />

diferença entre o “construtor miraculoso” e o policial. O “Cavaleiro de Bronze”<br />

perseguiu seus compatriotas p<strong>ar</strong>a fazê-los avanç<strong>ar</strong>; o governante atual p<strong>ar</strong>ecia<br />

interessado apenas em contê-los. Na Petersburgo de Nicolau, o cavaleiro de Puchkin<br />

era quase tão alienado quanto seu funcionário.<br />

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