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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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É fácil ver como os moder<strong>no</strong>s intelectuais, aprisionados nessas ambigüidades,<br />

imaginam formas radicais de sair da <strong>ar</strong>madilha: <strong>no</strong> seu caso, as id<strong>é</strong>ias revolucionárias<br />

brot<strong>ar</strong>ão de modo direto e intenso de suas necessidades pessoais. Con<strong>tudo</strong>, as<br />

condições sociais <strong>que</strong> inspiram seu radicalismo servem tamb<strong>é</strong>m p<strong>ar</strong>a frustrá-lo.<br />

Sabemos <strong>que</strong> at<strong>é</strong> mesmo as id<strong>é</strong>ias mais subversivas precisam manifest<strong>ar</strong>-se atrav<strong>é</strong>s<br />

dos meios disponíveis <strong>no</strong> mercado. Na medida em <strong>que</strong> atraiam e insuflem pessoas,<br />

essas id<strong>é</strong>ias se expandirão e enri<strong>que</strong>cerão o mercado, colaborando, pois, p<strong>ar</strong>a<br />

“increment<strong>ar</strong> o capital”. Assim, se admitirmos <strong>que</strong> a visão de M<strong>ar</strong>x <strong>é</strong> adequada e<br />

precisa, teremos todas as razões p<strong>ar</strong>a acredit<strong>ar</strong> <strong>que</strong> a sociedade burguesa ger<strong>ar</strong>á um<br />

mercado p<strong>ar</strong>a id<strong>é</strong>ias radicais. Esse sistema re<strong>que</strong>r constante perturbação, distúrbio,<br />

agitação; precisa ser permanentemente empurrado e pressionado p<strong>ar</strong>a manter a<br />

própria elasticidade e capacidade de recuperação, p<strong>ar</strong>a assenhore<strong>ar</strong>-se de <strong>no</strong>vas<br />

energias e assimilá-las, p<strong>ar</strong>a locomover-se na direção de <strong>no</strong>vas alturas de atividade e<br />

crescimento. Isto <strong>que</strong>r dizer, por<strong>é</strong>m, <strong>que</strong> todos os homens e movimentos <strong>que</strong> se<br />

proclamem inimigos do capitalismo talvez sejam exatamente a esp<strong>é</strong>cie de estimulantes<br />

<strong>que</strong> o capitalismo necessita. A sociedade burguesa, atrav<strong>é</strong>s de seu insaciável impulso<br />

de destruição e desenvolvimento e de sua necessidade de satisfazer às insaciáveis<br />

necessidades por ela criadas, produz inevitavelmente id<strong>é</strong>ias e movimentos radicais <strong>que</strong><br />

almejam destruí-la. Mas sua própria necessidade de desenvolvimento habilita-a a neg<strong>ar</strong><br />

suas negações internas: ela se nutre e se revigora daquilo <strong>que</strong> se lhe opõe, torna-se<br />

mais forte em meio a pressões e crises do <strong>que</strong> em tempos de paz, transforma inimizade<br />

em intimidade e detratores em aliados involuntários.<br />

Nesse clima, então, intelectuais radicais encontram obstáculos radicais: suas id<strong>é</strong>ias e<br />

movimentos correm o risco de <strong>desmancha</strong>r <strong>no</strong> mesmo <strong>ar</strong> moder<strong>no</strong> em <strong>que</strong> se<br />

decompõe a ordem burguesa <strong>que</strong> eles tentam sobrepuj<strong>ar</strong>. Nesse clima, circund<strong>ar</strong><br />

algu<strong>é</strong>m com um halo <strong>é</strong> tent<strong>ar</strong> destruir o perigo apenas negando-o. Os intelectuais do<br />

tempo de M<strong>ar</strong>x foram p<strong>ar</strong>ticul<strong>ar</strong>mente sensíveis a essa esp<strong>é</strong>cie de má-f<strong>é</strong>. Enquanto<br />

M<strong>ar</strong>x descobria o socialismo na P<strong>ar</strong>is de 1840, Gautier e Flaubert desenvolviam sua<br />

mística da “<strong>ar</strong>te pela <strong>ar</strong>te”, ao passo <strong>que</strong> o círculo em tor<strong>no</strong> de Comte construía sua<br />

própria mística p<strong>ar</strong>alela da “ciência pura”. Ambos esses grupos — às vezes em conflito<br />

entre si, às vezes interligados — se auto-sagr<strong>ar</strong>am como movimentos de vangu<strong>ar</strong>da.<br />

Todos foram agudos e mordazes em sua crítica ao capitalismo, mas, ao mesmo tempo,<br />

absurdamente complacentes em relação à crença de <strong>que</strong><br />

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