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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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implacável de Nietzsche, a cegueira com a qual ele se lança à ação, aliviado de toda a<br />

experiência pr<strong>é</strong>via, captura o autêntico espírito de modernidade. “ Nessa perspectiva,<br />

“modernidade e história são diametralmente opostas uma à outra”. 16 De Man não<br />

fornece exemplos contemporâneos, mas seu es<strong>que</strong>ma podia facilmente abranger todas<br />

as esp<strong>é</strong>cies de modernistas em atuação <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60, numa grande v<strong>ar</strong>iedade de meios<br />

e gêneros.<br />

Havia, evidentemente, Robert Moses abrindo seu mundo da via expressa atrav<strong>é</strong>s das<br />

cidades, eliminando todo traço de vida <strong>que</strong> aí existia antes; Robert McNam<strong>ar</strong>a,<br />

pavimentando as selvas do Vietnã p<strong>ar</strong>a fazer surgir cidades e aeroportos instantâneos,<br />

trazendo milhões de aldeões p<strong>ar</strong>a o mundo moder<strong>no</strong> (a. estrat<strong>é</strong>gia da “modernização<br />

forçada” de Samuel Huntington), por meio do bomb<strong>ar</strong>deamento at<strong>é</strong> as cinzas de seu<br />

mundo tradicional; Mies van der Rohe, cujas caixas de vidro modu-l<strong>ar</strong>es, idênticas em<br />

todas as p<strong>ar</strong>tes, começavam a domin<strong>ar</strong> as metrópoles, igualmente desatentas a<br />

qual<strong>que</strong>r uma delas, como o mo<strong>no</strong>lito gigante <strong>que</strong> brota em meio ao mundo primitivo em<br />

2001 de Stanley Kubrick. Mas não podemos es<strong>que</strong>cer a ala apocalíptica da Nova<br />

Es<strong>que</strong>rda em seu delírio terminal circa 1969-70, ufanando-se em visões de hordas<br />

bárb<strong>ar</strong>as avançando sobre Roma, enquanto escrevia “Derrub<strong>ar</strong> as p<strong>ar</strong>edes” em todos<br />

os muros e dirigia-se ao povo com o lema “Combata o povo”.<br />

Sem dúvida, a história não se esgotava aí. Procurei <strong>ar</strong>gument<strong>ar</strong> há pouco <strong>que</strong> algo do<br />

mais criativo modernismo dos a<strong>no</strong>s 60 consistia em “gritos na rua”, visões de mundo e<br />

valores <strong>que</strong> a m<strong>ar</strong>cha triunfante<br />

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da modernização estava calcando aos seus p<strong>é</strong>s, ou simplesmente deixando p<strong>ar</strong>a trás.<br />

Não obstante, esses <strong>ar</strong>tistas, pensadores e ativistas <strong>que</strong> <strong>que</strong>stion<strong>ar</strong>am o mundo da<br />

via expressa admitiam como certos a sua inesgotável energia e seu impulso inexorável.<br />

Eles enc<strong>ar</strong>avam suas obras e ações como antíteses, envolvidas num duelo dial<strong>é</strong>tico com<br />

a tese <strong>que</strong> estava sufocando todos os gritos e <strong>que</strong> v<strong>ar</strong>ria todas as ruas do mapa<br />

moder<strong>no</strong>. Esse embate de modernismos radicalmente opostos conferiu à vida dos a<strong>no</strong>s<br />

60 muito de sua coerência e excitamento.<br />

O <strong>que</strong> ocorreu na d<strong>é</strong>cada de 70 foi <strong>que</strong>, justamente quando os gigantescos motores do<br />

crescimento e da expansão estac<strong>ar</strong>am e o tráfego quase p<strong>ar</strong>ou, as sociedades<br />

modernas perderam abruptamente sua capacidade de banir p<strong>ar</strong>a longe o passado.<br />

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