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tudo que é sólido desmancha no ar - Comunicação, Esporte e Cultura

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poderes de re<strong>no</strong>vação”. 28 O <strong>ar</strong>gumento básico deste livro <strong>é</strong>, de fato, <strong>que</strong> os<br />

modernismos do passado podem devolver-<strong>no</strong>s o sentido de <strong>no</strong>ssas próprias raízes<br />

modernas, raízes <strong>que</strong> remetem a duzentos a<strong>no</strong>s atrás. Eles podem ajud<strong>ar</strong>-<strong>no</strong>s a<br />

conect<strong>ar</strong> <strong>no</strong>ssas vidas às de milh<strong>ar</strong>es de indivíduos <strong>que</strong> vivem a centenas de milhas, em<br />

sociedades radicalmente distintas da <strong>no</strong>ssa — e a milhões de pessoas <strong>que</strong> pass<strong>ar</strong>am<br />

por isso há um s<strong>é</strong>culo ou mais. Eles podem ilumin<strong>ar</strong> as forças contraditórias e as<br />

necessidades <strong>que</strong> <strong>no</strong>s inspiram e <strong>no</strong>s atormentam: <strong>no</strong>sso desejo de <strong>no</strong>s enraiz<strong>ar</strong>mos<br />

em um passado social e pessoal coerente e estável, e <strong>no</strong>sso insaciável desejo de<br />

crescimento — não apenas o crescimento econômico mas o crescimento em experiência,<br />

em conhecimento, em prazer, em sensibilidade — crescimento <strong>que</strong> destrói as paisagens<br />

físicas e sociais do <strong>no</strong>sso passado e <strong>no</strong>ssos vínculos emocionais com esses mundos<br />

perdidos; <strong>no</strong>ssa desesperada fidelidade a grupos <strong>é</strong>tnicos, nacionais, classistas e<br />

sexuais <strong>que</strong>, esperamos, possa d<strong>ar</strong>-<strong>no</strong>s uma firme “identidade” e, ao lado disso, a<br />

internacionalização da vida cotidiana — <strong>no</strong>ssas roupas e objetos dom<strong>é</strong>sticos, <strong>no</strong>ssos<br />

livros e <strong>no</strong>ssa música, <strong>no</strong>ssas id<strong>é</strong>ias e fantasias —, <strong>que</strong> espalha <strong>no</strong>ssas identidades por<br />

sobre o mapa-múndi; <strong>no</strong>sso desejo de <strong>sólido</strong>s e cl<strong>ar</strong>os valores em função dos quais viver<br />

e <strong>no</strong>sso desejo de ab<strong>ar</strong>c<strong>ar</strong> todas as ilimitadas possibilidades de vida e experiência<br />

modernas, <strong>que</strong> oblit<strong>é</strong>ra todos os valores; as forças sociais e políticas <strong>que</strong> <strong>no</strong>s impelem a<br />

explosivos conflitos com outras pessoas e outros povos, ainda quando desenvolvemos<br />

uma profunda percepção e empatia em relação a <strong>no</strong>ssos inimigos decl<strong>ar</strong>ados,<br />

chegando a d<strong>ar</strong>-<strong>no</strong>s conta, às vezes t<strong>ar</strong>de demais, de <strong>que</strong> eles afinal não são tão<br />

diferentes de nós. Experiências como essas <strong>no</strong>s unem ao mundo moder<strong>no</strong> do s<strong>é</strong>culo<br />

XIX, um mundo em <strong>que</strong>, como disse M<strong>ar</strong>x, “<strong>tudo</strong> está impregnado do seu conteúdo”,<br />

“<strong>tudo</strong> o <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>sólido</strong> <strong>desmancha</strong> <strong>no</strong> <strong>ar</strong>”; um mundo em <strong>que</strong>, como disse Nietzsche,<br />

“existe o perigo, a mãe da moralidade — grande perigo (...) deslocado sobre o<br />

indivíduo, sobre o mais próximo e mais <strong>que</strong>rido, sobre a rua, sobre o<br />

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filho de algu<strong>é</strong>m, sobre o coração de algu<strong>é</strong>m, sobre o mais profundo e secreto recesso<br />

do desejo e da vontade de algu<strong>é</strong>m”. As máquinas modernas mud<strong>ar</strong>am<br />

consideravelmente <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s <strong>que</strong> medeiam entre os modernistas do s<strong>é</strong>culo XIX e nós<br />

mesmos; mas os homens e mulheres moder<strong>no</strong>s, como M<strong>ar</strong>x e Nietzsche e Baudelaire e<br />

Dostoievski os viram então, talvez só agora comecem a cheg<strong>ar</strong> à plenitude de si<br />

mesmos.<br />

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